Aproximam-se as 18h30 e o Auditório José Mariano Gago, no Pavilhão do Conhecimento, vai enchendo a olhos vistos. Passaram pouco mais de 10 minutos e não restam cadeiras livres. Enquanto espera pelo início do evento, uma das mais jovens participantes na homenagem ao Professor António Galopim de Carvalho brinca com dois dinossauros em miniatura – o feroz
Tyrannosaurus rex
e o seu primo,
Spinosaurus.
É Rosalia Vargas, Presidente da Ciência Viva, que dá as boas-vindas ao protagonista do dia e à audiência, partilhando divertidas histórias vividas com o também amigo Galopim de Carvalho. Segue-se a exibição do vídeo “As pegadas do gigante”, que faz soar frases-chave proferidas pelo cientista. “Quem não luta, perde sempre”, diz, a determinada altura. E se há algo que podemos afirmar com segurança é que Galopim de Carvalho tem lutado, incessantemente, pela preservação do património geológico.
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Na tertúlia “Um legado intemporal”, moderada por Ricardo Vilela (Ciência Viva), antigos alunos, colegas, amigos ou, simplesmente, entusiastas dos dinossauros partilham as suas conexões ao mundo da Geologia e da Paleontologia, em geral, e a Galopim de Carvalho, em particular. No painel estiveram Conceição Freitas, geóloga e investigadora no Instituto Dom Luiz, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Octávio Mateus, paleontólogo e professor na NOVA School of Science and Technology | FCT NOVA, e os pequenos “dino-fãs” Miriam (6 anos) e Diogo (14 anos).
Conceição Freitas foi aluna e colega de Galopim de Carvalho e relembra, divertida, os tempos de faculdade. As gargalhadas ecoam pelo auditório quando se refere ao professor como o “Tony Carreira da Geologia”. E a verdade é que, ao longo do tempo, tem arrastado multidões e a lotação esgotada no evento em sua homenagem é prova disso.
Galopim de Carvalho: o “bloqueio” a uma segunda extinção de dinossauros
Filho dos fundadores do Museu da Lourinhã, Octávio Mateus partilha com o público algumas fotografias de marcos importantes para Galopim de Carvalho e a Paleontologia. Para o paleontólogo, não restam dúvidas: é graças a Galopim de Carvalho que não assistiremos a uma segunda extinção dos dinossauros.
Tempo de ouvir os mais pequeninos. Miriam, com apenas seis anos, faz-se acompanhar por um saurópode de peluche – o grande herbívoro de pescoço e cauda comprida. “Porque é que gostas de dinossauros?”, questiona Octávio Mateus. A resposta não tardou: “Gosto de dinossauros, porque são grandes, velhinhos e já não existem”. Miriam deixa um aviso: “Temos de ter muito cuidado com os dinossauros omnívoros! Não comem só erva, também comem carne”. Na incerteza, é melhor andarmos atentos…
Diogo, apesar da tenra idade, já atingiu o que muitos cientistas seniores almejam atingir. Descobriu, juntamente com um colega, durante uma visita à Serra dos Mangues (a norte de São Martinho do Porto), pegadas de
stegosaurus
. Este trabalho valeu aos jovens o primeiro lugar num concurso da Fundação da Juventude e será apresentado, brevemente, em Milão (Itália).
A homenagem não poderia terminar sem darmos voz ao gigante dos gigantes, António Marcos Galopim de Carvalho.
Visivelmente emocionado com o momento, o geólogo encerrou a cerimónia sensibilizando para a importância dos trilhos das pegadas de saurópodes da Pedreira do Galinha, em Ourém. Fala como se fosse a sua última luta, mas o legado que deixa e as pessoas que inspira fazem-nos antecipar que ainda ouviremos falar do seu trabalho por largos anos.