Realidade distorcida


A nossa percepção não identifica o que nos rodeia como é na realidade, mas sim, como as transformações, efectuadas pelos nossos órgãos dos sentidos, nos permitem reconhecê-lo. É assim que transformamos fotões em imagens, vibrações em sons e ruídos e reacções químicas em cheiros e gostos específicos. Na verdade, o Universo é incolor, inodoro, insípido e silencioso, excluindo-se a possibilidade que temos de percebê-lo de outra forma.

Hoje, não mais se admite, como acontecia no passado, que o nosso universo perceptivo resulte do encontro entre um cérebro simples e as propriedades físicas de um estímulo. Na verdade, as percepções diferem, qualitativamente, das características físicas do estímulo, porque o cérebro extrai delas informações e interpreta-as em função de experiências anteriores com as quais ela se associe. Experimentamos ondas electromagnéticas, não como ondas, mas como cores e identificamo-las em experiências anteriores.

Experienciamos vibrações como sons, substâncias químicas dissolvidas no ar ou na água como cheiros e gostos específicos. Cores, tons, cheiros e gostos, são construções da mente, a partir de experiências sensoriais. Eles não existem, como tais, fora do nosso cérebro. Assim, já se pode responder a uma das questões tradicionais dos filósofos: Há som, quando uma árvore desaba numa floresta, se não tiver alguém para ouvir? Não, a queda da árvore gera vibrações e o som só ocorre se elas forem percebidas por um ser vivo capaz de identificar tais vibrações como estímulos sonoros.

A resposta de cada órgão sensorial deve-se à área neurológica onde terminam as vias provenientes do receptor periférico. O sistema sensorial começa a operar quando um estímulo, ambiental, é detectado por um neurónio sensitivo, o primeiro receptor sensorial. Este converte a expressão física do estímulo (luz, som, calor, pressão, paladar, cheiro) em potenciais de acção, que o transformam em sinais eléctricos. Daí é conduzido a uma área de processamento primário, onde se elaboram as características iniciais da informação: cor, forma, distância, tonalidade, etc., de acordo com a natureza do estímulo original.

De seguida, a informação, já elaborada, é transmitida aos centros de processamento secundário do tálamo. Se a informação é originada por estímulos olfactivos, ela vai ser processada no bulbo olfatório e depois segue para a parte média do lobo temporal. Nos centros talâmicos, a informação incorpora-se a outras, de origem límbica ou cortical, relacionadas com experiências passadas.

Finalmente, e já bastante modificada, esta informação é enviada ao centro cortical.A esse nível, a natureza e a importância do que foi detectado são determinados por um processo de identificação consciente a que denominamos percepção.