D102 - A escrita no mundo


Uma condição essencial para o desenvolvimento da sociedade da informação é a capacidade generalizada de ler e escrever.

O nosso conhecimento actual indica que a escrita alfabética foi inventada na Palestina depois de 1700 a.C. A invenção da escrita alfabética conduziu a um aumento exponencial da literacia. A escrita alfabética é algo comum a todos os europeus, apesar de usarmos dois alfabetos distintos: o alfabeto latino e o alfabeto cirílico.

Investigador: Raija Mattila, Helsinki university


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O laranja indica as palavras e os sistemas de palavra/sílaba.

a.C. d.C.
 

A Escrita no Mundo

Uma condição essencial para o desenvolvimento da sociedade da informação é a capacidade generalizada de ler e escrever.

O nosso conhecimento actual indica que a escrita alfabética foi inventada na Palestina depois de 1700 a.C.. A invenção da escrita alfabética conduziu a um aumento exponencial da literacia. Qualquer pessoa medianamente inteligente podia agora rapidamente aprender a utilizar o reduzido número de caracteres, ao contrário do que acontecia com as centenas de sinais cuneiformes e hieroglíficos. Neste sentido, a escrita alfabética foi e é um factor significativo de promoção da igualdade na sociedade.

A escrita alfabética é algo comum a todos os europeus, apesar de usarmos dois alfabetos distintos: o alfabeto latino e o alfabeto cirílico.

 

Escrita rúnica

A escrita rúnica foi utilizada pelos povos germânicos antes do advento do Cristianismo, entre 100 e 1300 d.C.. A palavra “runa” significa secreto.

Os textos que sobreviveram são pequenas inscrições em objectos e pedras. Contudo, a forma das letras indica-nos que provavelmente elas foram desenvolvidas para a escrita em superfícies de madeira. As runas variavam consoante a linguagem local e de lugar para lugar.

 

Escrita cóptica

A escrita cóptica é uma variante do alfabeto grego e apareceu no século IV d.C. O cóptico, a última língua falada no Antigo Egipto, é a linguagem dos egípcios cristãos.

Sons ou fonemas como o “f” e sinais para os fonemas guturais do cóptico que faltavam no alfabeto grego foram acrescentados de uma versão final da escrita do Antigo Egipto.

 

Escrita latina

O alfabeto latino, a escrita que habitualmente utilizamos, foi desenvolvido a partir de caracteres etruscos baseados no alfabeto proto-cananeu.

As letras originais do alfabeto latino eram maiúsculas. As minúsculas, letras pequenas, são uma invenção medieval. A diferenciação entre letras minúsculas e letras maiúsculas é usada sobretudo na escrita latina, grega e cirílica. A maioria dos sistemas de escrita de todo o mundo não a utiliza.

 

A escrita latina de hoje

Actualmente, a escrita latina é usada por todo o tipo de línguas na Europa, Austrália, África, América e algumas partes da Ásia.

A escrita latina tem sido adaptada a diferentes sistemas de sons ou fonemas através de dois métodos principais: atribuição de novos valores a letras e a combinações de letras (como no Inglês); ou criação de novas letras utilizando diacríticos (“a” e “ä”, “u” e “ü”).

 

Escrita grega

Acredita-se que a origem da escrita grega, que surgiu antes de 1000 a.C., esteja não nos fenícios mas nos cananeus. Apesar de os textos mais antigos que se conhecem datarem do século VIII a.C., não restam dúvidas de que a escrita surgiu mais cedo.

No início, os gregos escreviam de forma aleatória da esquerda para a direita ou da direita para a esquerda, e mesmo de trás para a frente ou vice-versa. Isto significa que este método de escrita foi utilizado antes de se ter fixado a direcção da escrita cananeia. Além disso, muitas formas de letras são claramente mais arcaicas (mais antigas) do que as da escrita fenícia do século VIII a.C.

Os gregos desenvolveram a escrita cananeia adicionando caracteres para as vogais.

 

A escrita grega de hoje

Actualmente, existem cerca de 10 milhões de pessoas nos territórios continentais da Grécia, Chipre e Turquia, que falam grego e utilizam a forma grega de escrita. Os caracteres do alfabeto grego são também utilizados como símbolos matemáticos e físicos por todo o mundo.

 

Escrita cirílica

A escrita cirílica, o “alfabeto russo”, foi desenvolvida na Bulgária no final do século IX. Com o Cristianismo, esta forma de escrita estendeu-se a muitas línguas eslavas. A escrita cirílica baseia-se na escrita contemporânea grega, à qual foi acrescentada, para reproduzir os sons eslavos típicos, letras retiradas da escrita glagolítica criada por S. Cirílo, apóstolo dos eslavos.

A escrita cirílica é utilizada nos países da Europa de Leste predominantemente ortodoxos. Países católicos como a Polónia utilizam o alfabeto latino.

 

Escrita hieroglífica hitita

A escrita hieroglífica hitita foi utilizada no império hitita desde o século XIV ao século IX a.C. Os hieroglifos eram usados na escrita da língua luvian, e a escrita hitita utilizava uma adaptação da escrita cuneiforme da Mesopotâmia.

Esta escrita consistia na utilização de sinais para palavras e sílabas que só parcialmente foram decifrados. Apesar do seu nome, não estava relacionada com os hieroglifos egípcios.

Escrita linear A e escrita linear B

A escrita linear A foi utilizada na ilha de Creta entre os anos 2500 e 1450 a.C. Os textos existentes são essencialmente pequenos registos económicos escritos em placas de barro. Esta língua permanece um enigma.

A escrita linear B foi utilizada na Grécia e na ilha de Creta desde meados do século XVI a.C. até à queda da cultura minóica, no ano 1200 a.C. A língua era um dialeto arcaico do grego. A maioria dos textos existentes são registos económicos escritos sobre barro. A escrita linear B foi decifrada por M. Ventris em 1952.

 

Escrita hieroglífica

A escrita hieroglífica é o sistema de escrita do Antigo Egipto que melhor se conhece. Tal como os antigos sistemas de escrita, ela recorria à interpretação de símbolos e figuras para expressar palavras difíceis ou impossíveis de desenhar. A palavra “vida” era representada por uma correia de sandália, porque “vida” e “correia de sandália” se pronunciavam de forma semelhante (‘nh).

Contudo, não sabemos exactamente como é que se pronunciava egípcio porque os hieróglifos não indicam vogais.

Os hieróglifos eram utilizados nos monumentos e a escrita era conservadora, mantendo-se a sua forma pictórica ao longo do período em que foi utilizada.

O hierático e o demótico, que eram escritas mais “cursivas”, foram desenvolvidos para a escrita em papiro.

 

Escrita proto-cananeia

Inscrições proto-cananeias foram encontradas num pequeno número de lugares da Palestina. Datam dos séculos XVII e XVI a.C., e são os textos mais antigos que se conhecem em escrita alfabética.

As letras são figuras, e a maioria delas utiliza o princípio “acrofónico”. O “k”, por exemplo, era representado pelo desenho de uma mão (kaf). Apenas se escreviam as consoantes e a direcção da escrita variava.

 

Escrita hebraica antiga

A escrita hebraica antiga foi desenvolvida a partir da escrita cananeia. A utilização generalizada desta forma de escrita foi abandonada quando os judeus começaram a utilizar a escrita hebraica quadrangular baseada no aramaico.

 

A escrita sul-arábica

A escrita do Sul da Arábia foi desenvolvida a partir do alfabeto proto-cananeu, na península arábica, por volta de 1200 a.C. Foi utilizada até ao ano 400 d.C., particularmente no Sul da península, onde na altura floresciam várias civilizações. Apesar do seu nome, a língua tinha mais semelhanças com as línguas etíopes do que com as línguas arábicas.

A partir da península arábica, estes alfabetos espalharam-se pela Etiópia, onde ainda são utilizados.

 

Escrita etiópica

O alfabeto etiópico baseia-se no alfabeto do Sul da Arábia, e a primeira versão era apenas uma simples modificação deste. Quando a escrita foi adoptada pela igreja etíope, a direcção da escrita foi invertida, começando pela esquerda.

No século IV d.C. as vogais passaram a ser assinaladas através de uma modificação dos caracteres básicos, nascendo assim o sistema actual. Um carácter na sua forma básica assinala sempre uma sílaba terminada com um “a” breve.

Actualmente, esta escrita é utilizada como língua tradicional da igreja etíope e na maioria das línguas faladas na Etiópia, incluindo o amárico e o tigre.

 

Escrita cuneiforme sumeriana

A escrita foi inventada na Mesopotâmia no ano 3200 a.C. No início, a escrita cuneiforme consistia em palavras-símbolos, mas posteriormente foram introduzidos elementos gramaticais expressos através de sinais silábicos.

A escrita sumeriana era “o Latim da Mesopotâmia”, e foi utilizada nas escolas durante mais de 1000 anos após a seu desaparecimento como língua falada.

 

Escrita cuneiforme acádica

Os acádicos adoptaram a escrita cuneiforme sumeriana e desenvolveram-na.

Os caracteres em forma de cunha eram inscritos em barro mole. Depois de seco, o barro é um material extremamente durável. Centenas de milhares de placas de barro escritas em cuneiforme sobreviveram até hoje.

A escrita cuneiforme acádica foi adaptada por muitas línguas vizinhas, incluindo a hitita e a elamita.

 

Escrita fenícia

O alfabeto fenício foi desenvolvido a partir do sistema proto-cananeu. A escrita fenícia foi posteriormente utilizada pelo púnico, e continuou a ser utilizada até ao século I d.C.

Os fenícios foram considerados os principais difusores do alfabeto. Contudo, crê-se que os gregos foram buscar a sua escrita ao próximo Oriente antes do tempo dos fenícios.

 

Escrita aramaica

A escrita aramaica tem uma origem comum à escrita fenícia, mas a forma das letras é mais arredondada.

A escrita aramaica difundiu-se largamente entre os impérios assírio e persa, que utilizavam a língua e a escrita aramaica na sua administração, entre os séculos VIII e V a.C. Através do aramaico, o alfabeto propagou-se desde o Próximo Oriente até às regiões remotas da Ásia.

 

Escrita proto-elamita

Foram encontrados escritos proto-elamitas numa zona do actual Irão, anteriormente conhecida por Elam. Os escritos iniciais, correspondentes ao período entre 3200 e 2500 a.C. são apenas ligeiramente posteriores aos escritos mesopotâmicos mais antigos. A escrita da primeira fase é pictórica, e os textos são sobretudo de natureza administrativa.

Durante a última fase, por volta de 2200 a.C., a escrita é silábica e os textos são inscrições. Ainda é difícil interpretar os primeiros textos porque o material é escasso e a linguagem insuficientemente conhecida.

 

A escrita cuneiforme elamita

A escrita cuneiforme mesopotâmica foi adaptada por muitas línguas vizinhas, incluindo a elamita.

A última fase da escrita cuneiforme persa é uma mistura de sílabas e caracteres alfabéticos. São também utilizados alguns logogramas (rei, terra). A escrita persa foi utilizada pelos governantes persas do Império de Achaemenid, durante os séculos VII e IV a.C. Os textos estão escritos em persa antigo, uma língua indo-europeia antecessora do persa moderno.

 

Escrita harapiana

A escrita harapiana foi utilizada pela cultura de Harapa, cidade localizada no vale do rio Indo por volta de 2600 a 1800 a.C. Esta escrita tem sido intensamente estudada na Finlândia com a ajuda de computadores.

A escrita harapiana recorre a logogramas, os textos são curtos e encontram-se sobretudo inscritos em selos o que, consequentemente, torna a interpretação dos textos muito difícil. A língua é evidentemente de tipo dravidiana do Sul da Índia.

 

Escrita brahami

A escrita brahami é a segunda mais antiga da Índia, a seguir à escrita harapiana. Foi desenvolvida a partir do alfabeto aramaico, provavelmente no século VI a.C.

A escrita brahami é sobretudo de natureza silábica. Os símbolos de base indicam o final silábico através de um pequeno “a”, e outras vogais são representadas por símbolos adicionais. Existem mais alguns sinais que indicam vogais no início de uma palavra.

 

Escrita devanagari

As formas de escrita do Norte da Índia evoluíram a partir do brahami. A mais importante é o devanagari, a escrita habitualmente utilizada pelo sânscrito.

É típico desta forma de escrita um traço do qual estão suspensas as letras. A escrita é silábica, combinando vogais e consoantes e é muito apurada do ponto de vista fonético.

Actualmente, o devanagari é utilizado na escrita hindi, a língua mais divulgada na India. O número teórico de utilizadores ultrapassa os 200 milhões, mas o nível de alfabetismo é baixo.

 

O tâmil e outras escritas do Sul da Índia

As várias formas de escrita do Sul da Índia mantiveram os caracteres básicos do brahami. Foram necessárias pequenas alterações para assinalar os sons dravidianos que diferem do sânscrito.

A escrita usada pelo tâmil afasta-se, de certa forma, do resto do grupo de escritas em que se insere. As ligações com o devanagari foram abandonadas e a ausência de vogal é marcada com um símbolo especial. Além disso, uma letra pode ser pronunciada de forma diferente dependendo da sua posição.

 

Escritas do Sudeste da Ásia

A escrita indiana estendeu-se à Ásia Oriental e Central com o Budismo e deu lugar ao aparecimento de vários sistemas ajustados às línguas locais.

A escrita siamesa usada na Tailândia foi um verdadeiro passo atrás no sentido da utilização de um verdadeiro alfabeto. As vogais eram escritas abaixo ou acima das consoantes e não como ligações entre elas.

A escrita khmer surgir no século VII d.C. na região hoje conhecida por Camboja. Existem muitas vogais diferentes nesta língua e o número dos caracteres para vogais foi reduzido para metade através da divisão dos caracteres para consoantes em dois grupos.

 

Escritas da Ásia Central

A mais antiga escrita da Ásia Central com inscrições turcas antigas assemelha-se muito ao aramaico. Uma forma mais cursiva da escrita aramaica esteve na origem de várias escritas utilizadas na Ásia Central, incluindo o uigur.

Este, por seu lado, esteve na base da escrita mongol, desenvolvida pelos monges budistas no século XIII d.C. Esta escrita foi amplamente divulgada pelo Império de Ghengis Khan. Ela desenvolve-se em colunas verticais a partir da esquerda.

A escrita mongol é hoje utilizada na República da Mongólia e no interior da Mongólia, uma região autónoma no Norte da China.

 

Escrita arábica

A escrita arábica foi desenvolvida a partir do alfabeto aramaico utilizado pelos nabateus no século IV d.C.

À medida que a escrita se tornava mais cursiva, a forma de muitas letras tornou-se muito semelhante, e o arábico tem mais consoantes do que o aramaico. Devido a estes dois factores, foram posteriormente adicionados sinais diacríticos para diferenciar os diferentes sons.

Apenas as vogais longas são escritas com letras e as vogais curtas são assinaladas por pequenos sinais acima ou abaixo da linha ou são completamente abandonadas.

A escrita arábica é utilizada pelo arábico e por muitas outras línguas nos países islâmicos, incluindo o persa e o urdu.

 

A escrita hebraica quadrangular

A chamada escrita hebraica quadrangular é, de facto, apenas uma alteração do aramaico. As modernas letras hebraicas quadradas foram desenvolvidas no século III a.C. Os textos mais antigos que se conhecem foram encontrados em Qumran, a noroeste do rio Jordão.

Originalmente, a escrita hebraica não assinalava as vogais. A partir do século VIII d.C., vários sistemas vocálicos foram introduzidos para exprimir a pronúncia exacta dos textos bíblicos. O único sistema ainda em uso faz isto através da inclusão de pontos e linhas sob as letras.

 

Escrita siríaca

A escrita siríaca é utilizada pelos assírios (menos de 100.000 pessoas) que falam dialetos neo-aramaicos. São cristãos e vivem nas regiões Norte do Irão e Iraque. Muitos emigraram para os Estados Unidos da América, Suécia e Alemanha. Ainda hoje, eles utilizam como língua principal a linguagem da antiga tradução siríaca da Bíblia.

 

Escrita chinesa

Os escritos chineses mais antigos que existem datam, aproximadamente, de 1200 a.C. A escrita é logográfica e até os conceitos mais difíceis são expressos através de palavras-símbolos.

A escrita chinesa conservou a sua estrutura original até aos dias de hoje. A forma de escrita das palavras está bem adaptada à estrutura da língua chinesa. As palavras são pequenas, sem inflexões e os sons fazem a diferença entre as formas que, de outro modo, seriam homónimas.

O sistema de escrita logográfica também tem a vantagem de criar uma linguagem escrita uniforme num país onde os dialectos falados são muito diferentes.

 

Escrita japonesa

A escrita chinesa chegou ao Japão através da Coreia por volta do ano 400 d.C. No início, o chinês funcionou como a língua escrita, mas no século IX foi desenvolvido um sistema para expressar os sons e a estrutura da língua japonesa, que são totalmente diferentes da língua chinesa. Os caracteres chineses eram utilizados como sinais silábicos. Desta prática surgiram gradualmente as séries silábicas katakana e hiragana, construídas através da simplificação ou redução de caracteres chineses.

A escrita japonesa actual é mais parecida com a escrita de palavras do que com a escrita silábica dos tempos medievais. A raíz da palavra é escrita com um carácter chinês e o final flexivo com silabogramas hiragana. Os sinais katakana são utilizados para escrever nomes estrangeiros.

No japonês abundam os homónimos e por isso a escrita das palavras é, frequentemente, mais inequívoca (mais precisa) que o discurso. Apesar da complexidade da escrita, a taxa de alfabetismo no Japão é actualmente muito elevada – 99%.

 

Escrita olmeca

A primeira escrita meso-americana, a chamada escrita olmeca, surgiu por volta de 1100 a 600 a.C. e até hoje não foi decifrada.

As últimas escritas meso-americanas, como a escrita dos Maias e dos Astecas, desenvolveram-se a partir da escrita olmeca.

 

Escrita maia

Os mais antigos textos maias datam de 1 a 250 d.C. A partir do ano 400 d.C., foram usados sinais silábicos para clarificar a leitura de logogramas.

A forma de escrita maia assemelhava-se às primeira escritas cuneiforme e hieroglífica, com mais de 350 caracteres principais e cerca de 200 sinais fonéticos. A quantidade de textos existentes é pequena porque os conquistadores espanhóis procuraram destruir todos os vestígios da cultura dos Índios.

Durante os últimos anos, foram feitos progressos significativos para decifrar a escrita e hoje pequenos textos históricos podem ser compreendidos.