A Terra, um imenso íman???


Em 16OO William Gilbert, médico da rainha Isabel I de Inglaterra, foi o primeiro a explicar o funcionamento da bússola magnética.

Afirmou que toda a Terra é um imenso íman cujo campo magnético actua no pequeno íman que é a agulha da bússola, alinhando-a na direcção norte-sul. No início do século XX, Einstein considerava que a origem do campo magnético terrestre era um dos problemas fundamentais da física ainda não resolvidos. Apesar dos avanços científicos entretanto conseguidos, no início do século XXI a origem do campo magnético terrestre continua envolta em mistério.

0 campo magnético terrestre comporta-se como se o centro da Terra fosse ocupado por uma poderosa barra magnetizada. 0 alongamento desta barra hipotética fazia um ângulo de cerca de 11º em relação ao eixo de rotação do nosso planeta. 0 campo magnético pode ser visualizado como uma série de linhas de força que, em cada local do espaço nos indicam a orientação da força magnética.

Apesar do modelo da barra magnetizada explicar perfeitamente a geometria do campo ma-gnético terrestre, ele não pode ser aplicado ao nosso planeta. Com efeito, experiências laboratoriais mostram que os materiais só conseguem reter um campo magnético permanente se estiverem a temperaturas inferiores ao denominado ponto de Curie que, para a maioria dos mine-rais susceptíveis de serem magnetizados, anda perto dos 500º C. Ora o manto e o núcleo terrestre estão demasiado quentes para reterem um campo magnético permanente.

Outra forma de criar um campo magnético é através de correntes eléctricas. Adaptando os conceitos do electromagnetismo ao estudo da Terra, os cientistas avançaram com a denominada teoria do dínamo. À semelhança do manto, o núcleo externo líquido estará agitado por correntes de convecção. Esta movimentação é considerada como capaz de produzir tanto as correntes eléctricas como o campo magnético necessário para manter um dínamo no núcleo, tanto mais que este é formado essencialmente por ferro no estado líquido (que é um bom condutor). É a partir deste dínamo fluido existente no núcleo externo que é gerado o campo magnético terrestre. Embora ainda existam muitos aspectos por esclarecer, esta ideia parece ser a melhor explicação para o magnetismo terrestre.

Algumas rochas, como os basaltos, são bastante ricas em ferro e tornam-se ligeiramente magnetizadas pelo campo magnético terrestre à medida que arrefecem abaixo do ponto de Curie. Os grãos dos minerais passam então a comportar-se como minúsculos ímanes “fósseis”, orientados de acordo com o campo magnético terrestre existente na altura de formação da rocha. Através do estudo dessas rochas é possível determinar o campo ma-gnético antigo, denominado paleomagnetismo ou magnetismo fóssil. O paleomagnetismo tornou-se uma ferramenta indispensável para o estudo do passado do nosso planeta. Com efeito, a determinação da orientação do campo magnético numa amostra e a sua comparação com o campo magnético actual, permite-nos saber se a rocha estudada terá sofrido alguma rotação desde o seu arrefecimento inicial. Por outro lado, a inclinação das linhas de força do campo magnético terrestre varia com a latitude; se determinarmos a inclinação magnética em amostras de rochas antigas, poderemos também ficar a saber a paleolatitude dos locais de formação das rochas. Estes dados são fundamentais para estudar as movimentações sofridas pelos blocos que constituem a superfície da Terra.