Do magma à rocha


Introdução

Gerado no interior da Terra a pressões e temperaturas bem diferentes das que se encontram à superfície, o magma (mistura complexa de rocha fundida, na qual existem cristais de minerais em suspensão bem como gases dissolvidos) acaba por arrefecer e consolidar dando origem às rochas ígneas ou magmáticas. Variações na composição química do magma, bem como no processo de arrefecimento que leva à sua solidificação, acabam por gerar um leque extremamente variado de formas e texturas.

Mensageiros do interior

Apesar de todos os progressos científicos e tecnológicos que já permitiram levar astronautas à Lua ou apanhar amostras noutros pla-netas, o Homem continua a ser incapaz de ter acesso directo ao que se passa a mais de 12 quilómetros de profundidade no seu próprio planeta. Qualquer processo geológico que permita trazer para a superfície amostras do interior da Terra é pois um auxiliar precioso para a compreensão da dinâmica do nosso planeta. O vulcanismo é um destes processos. Frequente-mente, o magma no seu caminho para a superfície arrasta pedaços do próprio manto, que não são totalmente absorvidos e que acabam por dar origem a xenólitos (isto é pedra estranha) de peridotito que ficam conservados como encraves nos basaltos resultantes da consolidação dos magmas.

Amostra 1: Basalto com encraves peridotíticos de olivina (mineral silicatado ferromagnesiano geralmente de cor verde).

Rochas… “sempre velhas”?

A maioria das pessoas tem a ideia de que as rochas são algo “que sempre existiu”. No entanto, as rochas estão sempre a formar-se. Em cada momento, o nosso Planeta, como corpo dinâmico que é, gera continuamente todos os tipos de rochas: sedimentares, ígneas e metamórficas, elas podem ter todas as idades.

Amostra 1: basalto com perto de 65 milhões de anos (Complexo vulcânico de Lisboa).Amostra 2: basalto da erupção de 1994 (Vesúvio, Itália)Amostra 3: basalto da erupção de 1983 (Etna, Itália)Amostra 4: basalto da erupção de 1999 (Etna, Itália)

Formas vulcânicas

Quando o magma atinge a superfície passa a designar-se lava, a qual tem uma composição ligeiramente diferente do magma que a originou pois o teor em gases dissolvidos é muito menor.

A diversidade dos materiais rochosos associados às erupções vulcânicas é extremamente grande. Por um lado, sendo a lava um material extremamente viscoso que vai arrefecer rapidamente, ela tende a originar rochas sólidas com formas muito variadas que frequentemente fazem lembrar esculturas grotescas. Por outro lado, a energia libertada durante as explosões que acompanham muitas erupções vulcânicas vai também condicionar o tipo de rochas que se vão formar.

Amostra 1: Devido à grande viscosidade da lava, quando esta escorre sobre a superfície topográfica a capa superficial que solidifica em primeiro lugar, começa a ficar enrugada devido ao movimento do material subjacente; formam-se então as lavas encordoadas (Vesúvio, Itália); Amostra 2: As explosões vulcânicas projectam para a atmosfera material fundido que muitas vezes vai consolidar antes de atingir o chão; nestas circunstâncias a lava adquire frequentemente formas fusiformes que recebem o nome de bombas vulcânicas (ilha do Faial, Açores).Amostra 3: Se olharmos para o interior de uma bomba vulcânica vemos que nas zonas mais internas são frequentes os espaços vazios de forma esférica os quais se tornam mais raros nas zonas mais externas. Estes espaços correspondem às bolhas de gás que ficaram aprisionadas devido à consolidação rápida da lava (ilha do Faial, Açores).Amostra 4: A quantidade de gases que ficam aprisionados durante a consolidação da lava, pode dar origem a uma rocha extremamente porosa e leve que recebe o nome de pedra-pomes (Ilha de S. Miguel, Açores).Amostra 5: Por vezes a lava é obrigada a sair sob pressão por buracos que existem na rocha que consolidou anteriormente, adquirindo então a forma de fitas distorcidas (Ilha de S. Miguel, Açores).Amostra 6: Por vezes, as nuvens de gás associadas às erupções vulcânicas têm misturadas uma quantidade tão grande de material sólido, que colapsam sob o seu próprio peso. Formam-se então as perigosas nuvens ardentes que chegam a atingir velocidades de 200 km/hora e temperaturas de 800ºC. Os materiais depositados por estas avalanches recebem o nome de ignimbritos (ilha do Faial, Açores).

Uma questão de textura

Quando o magma arrefece os elementos químicos que o compõem vão organizar-se quase sempre em cristais. O tamanho, a forma e o modo como os cristais se relacionam uns com os outros (isto é, a textura) depende, por um lado da viscosidade do magma (a qual depende essencialmente da sua composição química e temperatura) e por outro, da velocidade a que se dá o seu arrefecimento (arrefecimentos rápidos originam cristais pequenos enquanto que arrefecimentos lentos originam cristais de maiores dimensões).

Amostra 1: granito com fenocristais (os cristais de maiores dimensões) de feldspato (Lavadores, arredores do Porto); implica um arrefecimento muito lento, no qual se formaram os fenocristais, seguido de um arrefecimento lento, no qual se formou o resto da rocha.Amostra 2: granito (Sintra, arredores de Lisboa); formado a alguns quilómetros de profundidade onde o arrefecimento foi lento.Amostra 3: basalto com fenocristais (os cristais de maiores dimensões) de olivina (Faial, Açores); implica um arrefecimento lento, no qual se formaram os fenocristais, seguido de um arrefecimento rápido à superfície, no qual consolidou o resto da rocha.Amostra 4: basalto (Complexo vulcânico de Lisboa); implica um arrefecimento rápido à superfície pelo que os cristais não são visíveis sem o recurso ao microscópio.Amostra 5: obsidiana (ilha Vulcano, Itália); o arrefecimento foi tão rápido que não há tempo para se formarem cristais, obtendo-se então um vidro vulcânico.