Meteoritos… e seus subprodutos


Apenas pedras que tombam do céu?

A queda de uma rocha vinda do céu associada a enormes explosões e clarões que por vezes rivalizam em brilho com o próprio Sol, não podia deixar de constituir um acontecimento atemorizante. Por ser um fenómeno que contradizia o senso comum treinado nas experiências do dia-a-dia, a queda de um meteorito era quase sempre interpretada como uma mensagem divina.

Um longo caminho foi percorrido desde então, o qual nos permite agora perceber que afinal os meteoritos não são mais do que pedaços de asteróides, bocados da própria Lua ou de Marte, ou até talvez fragmentos de cometas que vindos do espaço acabam por cair na Terra. Todos estes fragmentos têm a sua origem nas inevitáveis colisões durante a evolução do Sistema Solar. O estudo dos meteoritos constitui uma oportunidade única de estudar o passado mais longínquo do nosso Sistema Solar.

Cerca de 80% dos meteoritos conhecidos são incluídos numa classe que designamos condritos, em virtude de apresentarem estruturas sub esféricas ou globulares de pequenas dimensões designadas côndrulos. A sua composição mineralógica é muito semelhante à que descrevemos para o nosso Planeta no seu estado mais primitivo: uma mistura de olivina, piroxena e ferro nativo. Somos assim levados a concluir que estes meteoritos constituem peda-ços do Sistema Solar no seu estado menos evoluído.

Contrastando com os condritos temos os meteoritos diferenciados, os quais terão resultado da fragmentação de corpos planetários que sofreram uma evolução semelhante à da Terra e na qual um núcleo metálico se separou de uma zona mais externa rica em silicatos. Destes, alguns não possuem vestígios de ferro; são os chamados acondritos. A maioria dos acondritos apresenta uma composição química muito semelhante à dos basaltos, a rocha vulcânica mais comum na Terra.

O outro tipo de meteoritos diferenciados são os sideritos ou meteoritos férricos, constituídos essencialmente por ferro metálico com algum níquel e pequenas quantidades de outros mine-rais. A maioria dos sideritos esteve inicialmente fundida e terão sido originados no núcleo de asteróides diferenciados.

O impacto de um meteorito com 10 quilómetros de diâmetro que se aproxima da Terra percorrendo cerca de 30 quilómetros em cada segundo, é uma catástrofe que, pelas suas dimensões, é dificilmente imaginável. Algumas comparações ajudam a perceber este fenómeno.

Imaginemos o volume do todos os edifícios dos Estados Unidos da América a chocarem contra a Terra a uma velocidade 100 vezes superior à de um avião a jacto; a energia então libertada é equivalente a 10 000 vezes o total do arsenal nuclear existente no pico da Guerra-fria... eis o impacto do nosso meteorito. A onda de choque produzida é tão intensa que parte, funde ou até vaporiza as rochas atingidas; este material é atirado para longe pela força do impacto.

Existe ainda alguma controvérsia sobre a origem dos tectitos. O modelo que parece reunir mais adeptos considera que eles foram formados devido a impactos extremamente intensos de meteoritos ou cometas com a Terra. Nestes impactos terão sido geradas gotas de rocha fundida que foram ejectadas através de buracos na atmosfera e que depois regressaram à Terra sob a forma de objectos vítreos. Estes vidros foram originados devido à rápida solidificação e apresentam formas e texturas da sua superfície que revelam a sua origem.

Nem sempre o material que é atirado para fora da zona de impacto do meteorito sai da atmosfera e regressa de novo à superfície da Terra. Na maior parte dos casos, ele apenas é espa-lhado em torno da cratera de impacto numa zona cuja dimensão varia com a energia gerada durante o impacto; recebe então o nome de ejecta.

A transferência da energia do impacto para as rochas da superfície terrestre onde o meteorito embateu produz estruturas variadas, que se desenvolvem a todas as escalas, desde a da malha cristalina até às gigantescas crateras de impacto que facilmente atingem áreas de milhares de quilómetros quadrados. As pressões extremamente elevadas aplicadas apenas durante fracções de segundo geram frequentemente estruturas impossíveis de gerar por outros fenómenos geológicos, tais como o vulcanismo ou os sismos.