Madeira !


Os métodos utilizados na colheita de toros evoluíram a par da indústria florestal. Em finais do século XIX, 90% das árvores derrubadas na Finlândia eram usados como combustível ou material de construção nas regiões rurais e apenas 10% se destinavam às serrações. A expansão da indústria madeireira no fim do século veio alterar a forma como os toros eram obtidos e a madeira serrada passou a ser a matéria--prima principal proveniente da floresta.

O machado foi durante muitos séculos a principal ferramenta usada para derrubar árvores e continuava a ser amplamente usado no início do século XX. Também os ramos eram cortados com um machado, geralmente fabricado pelo ferreiro local. Os troncos eram depois puxados por cavalos para um depósito, na floresta, onde e aguardavam que a Primavera chegasse e derre-tesse a neve. Os toros desciam então os rios, ribeiros e lagos, levados pela corrente, até às serrações e fábricas de pasta de papel.

Nos finais do século XIX, as empresas madeireiras começaram a utilizar nas suas fábricas serras de lâmina elíptica manipu-ladas por dois homens. Revelaram-se, porém, pouco produtivas visto que, para começar, ninguém sabia usá-las devida-mente, nem afiá-las, e um lenhador experiente conseguia cortar uma árvore muito mais depressa. As serras acabaram por substituir o machado na primeira década do século XX, por ordem das empresas florestais. Com uma serra era possível cortar uma árvore transversalmente junto ao solo, poupando-se muita preciosa madeira.

As primeiras motoserras, ainda de operação manual, foram inventadas nos Estados Unidos da América já em 1850, mas só se desenvolveram com o aparecimento do motor de combustão interna. Além de muito pesadas, as motoserras da primeira metade do século XX exigiam dois homens para manejá-las, eram pouco fiáveis e extremamente perigosas. Só na década de 1960 as motoserras começaram a ser amplamente usadas na exploração florestal.

Retirar a casca aos troncos era uma tarefa árdua. Os mais largos eram descascados com uma pá decorticadora, os mais finos com uma faca. A decorticação era obrigatória por lei, pois julgava-se que os troncos com casca poluíssem as águas. Além disso, sem a casca os troncos secavam mais depressa e, por conseguinte, flutuavam melhor. A pouco e pouco a tarefa passou a ser feita ao ar livre, à beira da floresta, e quando a indústria se expandiu na década de 1930 os grandes estaleiros de decorticação começaram a ser comuns.

O transporte dos troncos para a estrada continuava a ser efectuado por cavalos. Os primeiros camiões surgiram junto aos locais de abate de árvores na década de 1920. De início, transportavam os troncos até ao curso de água mais próximo, onde eram postos a flutuar. Carregar o camião com os troncos era difícil. Os primeiros guindastes de lança só foram introduzidos no fim da década de 1940.

Ao longos das décadas de 1960 e 1970, a mecanização do corte e transporte da madeira veio finalmente revolucionar o sistema tradicional de obtenção de madeira. Em vez de ser efectuada nos meses de Inverno, podia agora ser realizada ao longo do ano. Os cavalos desapareceram e as estradas e caminhos florestais levaram os camiões até às árvores. Os lenhadores já não precisavam de acampar, viviam nas suas casas e deslocavam-se todos os dias para o local de trabalho.

As serras manipuladas por dois trabalhadores deixaram também de ser usadas, com o aparecimento de motoserras leves e portáteis. Uma das vantagens era que também serviam para podar. As novas Husqvarnas, McCullochs, Jonsereds e Homelites eram assunto de conversa entre os lenhadores que se aqueciam em volta da fogueira.

Os primeiros protótipos de máquinas colectoras de toros foram desenvolvidos nos anos cinquenta. Derrubavam árvores, cortavam-nas em toros longitudinalmente e desramaram-nas. Também se inventaram processadoras que cortavam e aparavam troncos já abatidos. No entanto, eram máquinas pouco práticas e ainda não perfeitamente adaptadas ao uso florestal.

Na década de 1980, os lenhadores praticamente desapareceram das florestas. A máquina para colheita de toros desenvol-vida no início da década e 1970 firmou-se nos anos 1980 e não tardou a comprovar a sua superioridade em relação ao trabalho manual. Com o seu desenvolvimento, a actual sucessão de tarefas ficou determinada. A máquina abate, corta os ramos e serra os troncos convertendo-os em toros, depois o tractor transportador-carregador leva-os para a beira da estrada, onde são recolhidos por um camião que os transporta até à serração.

A década de 1980 também assistiu ao aparecimento das técnicas de medição automáticas. As máquinas passaram a estar equipadas com computadores e adaptou-se o sistema de madeira torada. Isso quer dizer que antes mesmo de abater a árvore a máquina já pode avaliar a qualidade e a quantidade dos toros e cortá-los de acordo com as dimensões pretendidas. Depois calcula as quantidades de cada classe de aproveitamento da madeira e envia os dados, por modem ou telemóvel, para o encarregado das operações, que passa as informações à serração e ao motorista do camião. Os dados sobre os toros são transmitidos em tempo real, passando a exigir-se novas competências aos trabalhadores florestais.

Fontes:

Hannu Konttinen - Ken Drushka: Metsäkoneiden maailmanhistoria. Timberjack Group Oy, 1997.

Lusto - Museu Finlandês da Floresta: Metsää etsimässä, 1995.

Nas primeiras décadas do século XX, os vastos estaleiros de corte e transporte de madeira existentes nos Estados Unidos e no Canadá fascinavam a Europa, em especial os países nórdicos. Existe uma série de histórias associadas a esses locais. Uma delas conta a história de um finlandês de baixa estatura que se foi oferecer para tra-balhar numa floresta do Canadá e a quem o capataz disse: “Só aceitamos gente forte. O contrato é cem troncos por dia.” Maldoso, o capataz entregou ao finlandês uma motoserra que só servia para cortar lenha. No primeiro dia, o finlandês regressou ao fim da tarde e disse: “Raios, ia já no 98º, mas escureceu tanto que não se via nada”. O capataz deu-lhe autorização para voltar a experimentar. No dia seguinte, o finlandês foi ter com ele já de madrugada e declarou: “Não sei o que se passa, mas não consigo chegar às cem, desta vez foi por uma!”. Nessa altura já o capataz começava a inte-ressar-se por aquele homenzinho determinado e decidiu mostrar-lhe como deveria proceder. Assim, na manhã seguinte o capataz dirigiu-se ao estaleiro e pôs a serra a trabalhar, ao que o finlandês exclamou: “Mas que barulho é esse?!”

Um episódio curioso na história da motoserra foi o da serra eléctrica. No final da década de 1940, as serras eléctricas Kita, fabricadas por Valmet da Finlândia, faziam parte das reparações de guerra devidas à Rússia, que acreditava firmemente na energia eléctrica como solução para resolver todos os problemas. O gerador e os cabos eléctricos eram, porém, difíceis de utilizar em plena natureza e, após uma série de curto-circuitos, os russos tiveram que desistir da ideia de electrificar a colheita de toros.

Os países nórdicos já tinham relações com o resto da Europa no século XVII, como fornecedores de um dos produtos de maior importância comercial: o alcatrão. As frotas da Europa exalavam todas o cheiro do “ouro negro” do Norte. Sendo a madeira também usada como combustível, a procura era considerável mas as florestas pouco ou nada cuidadas. Os Suecos foram os primeiros a aperceber-se do destino que aguardava as suas florestas se não fossem tomadas medidas para protegê-las, pois as árvores estavam a ser derrubadas para servirem de combustível, ou para darem lugar a terrenos de cultivo, tal como na Europa Central. Já no século XVII, a Rainha Cristina proibiu o hábito de queimar árvores para cultivar os respectivos terrenos. Proscreveu os habitantes das florestas de Värmland que, ignorando as medidas em vigor, não obedeceram às suas ordens.

Só em meados do século XIX os Finlandeses se aperceberam de que estavam a esbanjar as suas florestas. Em 1858, convidaram o director da academia florestal alemã em Tharand, o barão Edmund von Berg, para visitar e inspeccionar as florestas finlan-desas. Von Berg ficou horrorizado com o estado em que elas se encontravam, com o sistema de corte e queimada lá praticado, o direito de todos usarem as florestas e a indiferença pelo que se passava. Preconizou a adopção imediata do sistema europeu de corte anual. O Instituto Nacional de Silvicultura (hoje o Serviço de Parques e Florestas Finlandês) foi fundado no ano seguinte e a nova Lei Florestal de 1889 proibiu a devastação das florestas e obrigou os proprietários agrícolas a proceder à reflorestação após as colheitas. Assim teve início na Finlândia a silvicultura e o desenvolvimento sustentado.

As novas motoserras depressa se tornaram ferramentas poderosas, pois permitiam que um homem cortasse e aparasse uma árvore sozinho. A segurança no trabalho exigiu que os lenhadores utilizassem capacete e outros dispositivos de segurança.

Máquina para descascar madeira de indústria, 1928

Decorticação de escoras para minas na Alemanha, na década de 1930. Os lenhadores gastavam metade do seu tempo a decorticar a madeira.

Lenhadores finlandeses assistem a uma demonstração do funcionamento da serra alemã Rinco, operada por dois homens, no início da década de 1930. Os camiões surgiram pela primeira vez nos estaleiros de madeira na década de 1930. Carregá-las de troncos era uma tarefa perigosa, tendo havido muitos dedos partidos.

Na década de 1950 os cavalos começaram a ser substituídos por tractores nos países nórdicos, primeiro na agricultura, mas pouco depois também nas florestas. O tractor florestal era difícil de manobrar na floresta, pois tinha tendência para tombar e quando descia as encostas o peso dos troncos era tal que se virava com frequência.

À medida que os transportes rodoviários se popularizaram, os cursos de água perderam a sua importância e os troncos deixaram ser levados pela corrente na década de 1970.

A Suécia foi pioneira no desenvolvimento de máquinas florestais. O tractor VSA desenvolvido por Lars Bruun pode ser considerado o antepassado directo das modernas máquinas nórdicas. O VSA possuía direcção rotativa e um braço hidráulico, conhecido como o “elefante da floresta”.

Na Índia os elefantes ainda hoje são usados no transporte de troncos.

O primeiro tractor florestal de arraste finlandês importado, usado para transportar toros inteiros até à estrada.

O conceito dos modernos sistemas de exploração florestal foi desenvolvido na década de 1970: corte, empilhamento, processamento e transporte.

Estes tractores destinavam-se ao transporte da madeira até à estrada.

A colheita de toros sempre estimulou a mente dos inventores. No início da década de 1990, Timberjack apresentou um tractor florestal “andante” (protótipo). Inspirado no dinossauro, tem a capacidade de percorrer terrenos acidentados sem danificar as raízes das árvores.