História da Floresta


Floresta artificial e floresta natural

A relação do homem com a floresta intensificou-se após a introdução da agricultura. A madeira foi sempre uma matéria-prima importante na construção de ferramentas e apetrechos. A pegada do caçador, porém, era leve e não deixava uma marca permanente na floresta A situação alterou-se radicalmente nas comunidades fixas de agricultores, pois o novo estilo de vida influenciava a paisagem de uma maneira forte e permanente

Culturas da Grécia e Roma Antigas

Durante a Antiguidade Clássica, já se praticava a agricultura em quase toda a Europa. O cultivo de cereais e a criação de gado foram as bases sólidas do desenvolvimento das culturas clássicas grega e romana. O novo estilo de vida foi adoptado no Norte, nas regiões ocupadas por tribos germânicas. Na maioria dos países nórdicos, as pessoas ainda hoje vivem da caça e da pesca.

O inimigo cinzento

O Império Romano acabou por cair nas mãos dos bárbaros. Os documentos que sobreviveram até aos nossos dias desde o período das invasões falam de campos abandonados onde cresceram novas florestas. Nas epopeias anglo-saxónicas o homem da enxada surge como o “inimigo cinzento das florestas”. Na Idade Média a ocupação das terras estendeu-se a regiões até então nunca habitadas e na Europa Central a floresta foi dando lugar a novas cidades e campos cultivados.

Mastros, novos continentes e florestas até onde a vista alcança

O desenvolvimento económico e as primitivas técnicas medievais destruíram a floresta na maior parte dos países do Sul e Ocidente da Europa. Já no século XVI a Europa se dividia em países exportadores de madeira e países importadores. Os descobrimentos chamaram a atenção dos principais países navegadores para as reservas florestais podiam ser exploradas em todo o mundo, fora do nosso continente.

Rumo à era do carvão

Anteriormente ao século XVIII, a madeira constituía uma importante fonte de energia, além de uma matéria-prima indispensável. A sua importância era tão grande que se pode falar de uma civilização da madeira ou do carvão vegetal. Contudo, a série de invenções surgidas ao longo do século XVIII puseram fim à hegemonia da madeira e do carvão vegetal. Quando o carvão mi-neral substituiu a madeira como o combustível utilizado pela importante indústria metalúrgica, teve naturalmente início a era do carvão.

Crescimento e arrependimento

O homem do século XX foi-se afastando cada vez mais da floresta. A gestão florestal era extremamente limitada, preocupando-se apenas com os aspectos económicos. O estilo de vida urbano, pelo contrário, dava uma importância cada vez maior à natureza mítica da floresta.

Pré-história

Na Idade da Pedra, a Europa encontrava-se totalmente coberta por uma densa camada de floresta, pontuada apenas pelos Alpes, os Cárpatos e os picos de outras grandescadeias montanhosas. Os caçadores--recolectores do período mesolítico terão talvez aberto pequenas clareiras na floresta, usando os seus machados de pedra, para aí reunirem o seu gado ou os troncos que derrubavam e com os quais construíam as suas embarcações. No entanto, o desbravamento da floresta só principiou verdadeiramente quando a agricultura começou na Europa. A nova actividade depressa se espalhou pelo continente a partir do Oriente, chegando à Grécia por volta de 7000-6000 a C. e à Europa Central uns milhares de anos depois.

As florestas mediterrânicas

As florestas da Europa Meridional, Ocidental e Oriental já apresentavam características próprias antes do início da Era Cristã. Os carvalhos e o pinheiro abundavam no clima mediterrânico do Sul. A floresta sempre-verde da região mediterrânica era menos resistente do que as florestasnaturais do norte e não recuperava tão depressa do abate. No início da Era Cristã, a área do território permanentemente sem árvores na região mediterrânica eraconsideravelmente mais vasta do que em qualquer outro ponto da Europa.

Em muitos aspectos, a região mediterrânica foi o centro do desenvolvimento nos tempos pré-históricos e na Antiguidade. Isso compreende-se já que, no princípio da Era Cristã, mais de metade da população europeia, superior a 30 milhões de pessoas, vivia no Sul e foi precisamente nessa zona que surgiram as primeiras culturas avançadas.

Os agricultores e a floresta de carvalho

Nas florestas da Europa Ocidental e Meri-dional predominava o carvalho. Com os seus machados de pedra ou deitando-lhe fogo, os primeiros agricultores destruíram a floresta para criarem terrenos de cultivo. Na Europa Ocidental, porém, voltaram-segradualmente para culturas intensivas e mais permanentes.

Europa Oriental e Setentrional

A norte e a oriente do Rio Elba, onde terminava a floresta de faia, cresciam florestas mistas e de coníferas. A zona de coníferas foi durante muito tempo habitada por uma pequena população de caçadores dedicados ao comércio de peles, as quais trocavam por dinheiro ou produtos das regiões meridionais.

A Europa dos deuses

Na Antiguidade não existia ainda o conceito de europeísmo, nem uma entidade que representasse os países do Sul. Mas a noção de Europa já existia em termos geográficos. Era um dos continentes conhecidos pelos gregos antigos, sendo os outros dois a Ásia e a África.

O nome “Europa” tem origem na mitologia grega. O mito mais conhecido é a história do rapto de Europa. De acordo com a lenda, o deus grego Zeus apaixonou-se pela filha do rei fenício Agenor, de nome Europa, e, disfarçado de touro branco, raptou-a e levou-a com ele para a ilha de Creta.

A história ilustra a rivalidade entre a Grécia e a cidade de Tróia, na Ásia Menor. Na lenda, os troianos haviam tomado aos gregos Io, filha de Argos. O rapto de Europa foi pois uma vingança da parte dos gregos.

As expedições militares gregas

Os povos indo-europeus que falavam a língua grega fixaram-se na península situada entre os mares Jónico e Egeu entre 2200 e 1050 a C. Das cidades que ergueram nas íngremes encostas, Micenas viria a ser a mais importante e a dar o nome a uma nova civilização.

Os Micenenses eram hábeis mercadores. As suas exportações depressa se estenderam a Chipre, à Síria e ao Egipto. O êxito comercial dos gregos trouxe o desenvol-vimento de um considerável poder militar, cujo ponto alto foi o cerco e a destruição da grande cidade de Tróia.

Concurso de beleza

Diz a lenda que a guerra de Tróia se deveu à vaidade dos deuses. Páris, príncipe troiano e o mortal mais belo da Terra, foi incumbido de decidir qual a mais divina das deusas. A feliz vencedora desse concurso de beleza recompensou o juiz oferecendo--lhe a mulher mais maravilhosa que havia no mundo. Infelizmente, a bela Helena já tinha um marido, o rei Menelau, que foi com as suas tropas exigir que lhe devolvessem a sua mulher.

Os heróis gregos revelaram grande valentia e astúcia. O destino da aristocrática cidade da Ásia Menor foi a destruição e a pilhagem. Com base tanto em fontes literárias como em estudos científicos, podemos concluir que o aumento demográfico e a expansão económica verificados no final da Idade do Bronze constituíram um fardo insustentável para as florestas do Peloponeso. Por exemplo, os pinhais que rodeavam Pylos, a capi-tal de Messénia, foram quase totalmente destruídos. Em contraste, a cidade de Tróia governava áreas que sempre tinham sido conhecidas pelas suas majestosas florestas. Homero descreveu aos invejosos gregos a forma como os lenhadores abatiam carva-lhos altos como torres, que tombavam com o estrondo de um trovão.

A floresta e os metais

Mas para que quereriam os gregos as florestas de Tróia? A resposta é simples. A madeira era um material de construção tão precioso como a pedra ou o barro, mas ainda mais significativa era a sua utilização como combustível. Na Messénia, centenas de artífices trabalhavam o bronze. Outra actividade essencial era a produção de cerâmica para exportação. A escassez de combustível ameaçava seriamente essas importantes indústrias.

As raízes de Alexandre

Atenas era a principal cidade-estado da Grécia Antiga (480 a C). Após a guerra do Peloponeso, porém, deixou de controlar as florestas de Anfopólis e viu-se obrigada a importar madeira da Macedónia.

O ano de 356 a C foi decisivo na história da Grécia. Filipe II, rei da Macedónia, conquistou as florestas de Anfopólis. Daí em diante, a Macedónia passou a controlar a maioria das florestas gregas.

A falta de madeira era grande nas outras cidades-estado. Importá-la do exterior era terrivelmente dispendioso: em Atenas, um tronco importado custava a um pedreiro três meses de salário. Não admira, pois, que o rei da Macedónia tenha usado a madeira para conseguir o auxílio grego em futuras conquistas.

De pai para filho

Filipe deixou o seu reino, cuja riqueza assentava na madeira, ao filho Alexandre, mais tarde conhecido por Alexandre Magno ou Alexandre, o Grande. Alexandre alargou o domínio da Macedónia até à Pérsia. Os governantes que lhe sucederam não foram capazes de manter o império intacto; depois de fragmentado, viria a ser absorvido pelo Império Romano.

Aos Romanos não era estranho o papel fundamental que as florestas haviam desempenhado na ascensão do Império Helenístico. Após terem conquistado a Macedónia em 167 a C, os Romanos proibiram o abate de árvores em toda a região. A Macedónia não voltaria a competir pela supremacia no Mediterrâneo.

Mãe do império

O Império Romano também cresceu e prosperou protegendo a floresta. As densas florestas que revestiam as sete colinas de Roma forneciam protecção, alimento e matéria-prima para exportação. Durante a República, porém, a floresta foi abatida e os terrenos cultivados cada vez se aproximavam mais do cume das montanhas.

O Império Romano financiou a sua expansão com prata. O minério era obtido em Espanha e, durante 400 anos a fundição da prata consumiu mais de 500 milhões de árvores, destruindo florestas em mais de 700.000 m2 de terras.

A queda do império

Os fundidores de prata tinham de trabalhar arduamente para satisfazer as necessidades de imperadores como Calígula e Nero. Mas a produção cessou, por falta não de minério mas sim de combustível.

Quando a prata se esgotou, aos imperadores só restavam duas alternativas: poupar ou criar outras fontes de riqueza. Os gastos da corte não foram, porém, reduzidos. Os cortes incidiram directamente sobre acunhagem de moeda. A queda do Império Romano teve início quando o Imperador Cómodo começou a diluir a prata de que eram feitas as moedas com metais mais baratos. O seu sucessor deu continuação a essa medida. No século III a C, as moedas de prata romanas continham apenas 2% do precioso metal. A maioria das pessoas já não acreditava na economia monetária. Os imperadores responderam ao descontentamento dos cidadãos proporcionando-lhes um maior número de formas de entretenimento. Uma das mais populares eram os banhos. Florestas inteiras foram sacrificadas para manter os banhos quentes e os cidadãos satisfeitos.

A cidade antiga

O mundo antigo centrava-se na cidade. A cidade funcionava como centro político das regiões circundantes: em conjunto formavam a cidade-estado. Uma proporção significativa dos habitantes da cidade era constituída pelos senhores das terras e nobres. O comércio concentrava-se nas cidades e o artesanato florescia. No entanto, nem um nem outro determinaram a estrutura política e social da cidade.

O desenvolvimento da agricultura e o declínio do comércio e das trocas de mercadorias que se seguiram à queda do Império Romano reduziram a importância das cidades. As tribos germânicas que se estabeleceram na Europa eram formadas por guerreiros e camponeses para quem a cidade era uma coisa nova. Gradualmente foram-se adaptando ao modo de vida urbano.

Nascimento da cidade medieval

A redução das área florestadas e a fixação de populações, iniciadas durante o período Merovíngio, incentivaram o comércio. Comunidades de mercadores e artesãos surgiram dentro das velhas cidades ou perto delas. A cidade medieval típica começou a tomar forma ao longo dos séculos X e XI. Era constituída por uma população de mercadores e artesãos, ao contrário do campo, habitado por camponeses e aristocratas.

O crescimento das áreas urbanas

Foi no coração da Europa Central que a ocupação das terras se fez com mais intensidade. Numa primeira fase, os Eslavos ocuparam as terras deixadas livres pelos Teutões e , ao longo dos séculos XI e XII, os Alemães dedicaram-se à conquista do Oriente. No final do século XIII, o arado chagava às planícies alagadas e cobertas de florestas do Norte da Alemanha.

Revolução na tecnologia florestal

Depois de 1000, um novo fenómeno veio afectar a relação entre o homem e a floresta; a serra manual. Há mais de 6000 que o homem contava apenas com o machado para derrubar árvores. O desenvolvimento da metalurgia deu origem ao aparecimento das serras, muito mais eficientes. No Ocidente, os ferreiros aprendiam a fazer “aço de damasco”, forjado por meio de um método indiano. A nova ferramenta tornou-se ainda mais eficaz quando foi conjugada com a força da água corrente.

No entanto, e surpreendentemente, a inovação levou muito tempo a impor-se. Por toda a Europa a serra foi recebida com medo e hostilidade. Como eram relativamente silenciosas, estimulavam o abate furtivo de árvores e a sua grande eficácia era associada à destruição da floresta.

A população cresce...

Não admira que o pico do crescimento demográfico se tenha verificado ao mesmo tempo que a ocupação de terras atingia o seu auge. Uma população cada vez maior exigia cada vez mais cereais e a floresta viu-se obrigada a ceder ao implacável avanço das searas.

A população europeia começou a aumentar nos séculos IX e X e alcançou o seu pico no século XII. No século seguinte manteve-se estacionária e em meados do século XIV começou a decrescer, devido ao flagelo da peste negra. A queda a pique da população foi a consequência directa de uma batalha que teve lugar na Estrada da Seda, na Crimeia.

....e decresce

Em 1347, na Crimeia, os Mongóis lançaram o corpo de uma vítima da peste bubónica para o lado dos inimigos, os Genoveses. Essa guerra biológica deu origem a uma sucessão imparável de acontecimentos. No ano seguinte, a praga chegou ao Mediterrâneo e ao Sul da França e dois anos depois já se espalhava às Ilhas Britânicas, aos Países Baixos, às regiões ocidentais da Alemanha e à Noruega. Ao longo dos dois anos seguintes, a bactéria mortal alcançou as margens do Báltico e mesmo os pontos mais remotos da Rússia. Sendo a epidemia uma novidade para os Europeus, estes não tinham defesas naturais contra ela. Entre 1340 e 1400, a população do continente ficou reduzida a um terço. A população cresceu um pouco no século XV, mas depois disso a epidemia voltou.

Mas não era só a peste que os Europeus temiam no final do século XV. A outra ameaça eram os Turcos.

Luta pela supremacia no Mediterrâneo

A república de Veneza, localizada no delta do rio Pó, era um dos mais importantes estados italianos da Idade Média. Um dos segredos desse sucesso era o talento naval dos seus habitantes. O centro nevrálgico da cidade-estado era o seu gigantesco estaleiro naval. As autoridades chegaram mesmo a restringir a quantidade de carvão vegetal que podia ser usada pelo sector industrial mais importante da cidade, a indústria do vidro, a fim de assegurar o abastecimento de combustível à indústria da construção naval.

Ao que parece, os esforços dos Venezianos deram frutos, pois em 1420 a cidade transformava-se na rainha do Adriático. Contudo, ainda existia uma força diante da qual La Serenissima tinha de curvar-se.

“Trezentos, não, quatrocentos navios!”

Em 1470 a frota de Veneza foi derrotada pelos Turcos na Batalha de Euboea. Asenhora do Mediterrâneo nunca viria a recuperar desse desastre.

O comandante de um dos navios que tomou parte na batalha de Euboea relatou que os seus olhos não queriam acreditar no que viam quando avistaram a frota turca: “Todo o mar era uma floresta de mastros... a distância entre o primeiro e o último navio era de, pelo menos, seis milhas... isso podia significar o fim do Cristianismo.”

Os Turcos não precisavam de regulamentar a utilização da sua madeira. Em 1453 tomavam Constantinopla, selando desse modo as suas anteriores conquistas nos Balcãs, na Grécia e no Mar Negro. Os Otomanos agora dominavam zonas intermináveis de floresta a sudoeste do Mar Negro e na Trácia, no Norte da Grécia. As antigas paisagens dos Troianos e de Alexandre Magno forneciam-lhes madeira mais do que suficiente para construírem os seus navios.

O domínio dos Países Baixos

No início da nova era, o outrora florescente estaleiro naval de Veneza não passava de uma sombra do que fora no passado.

Em 1606, metade da frota mercante da república era construída fora; no final do século esse número subiu para três quartos. O Mediterrâneo cedia gradualmente a sua posição de líder para a os países do Noroeste europeu.

No século XVII, o centro nevrálgico da economia europeia situava-se nos Países Baixos. A posição dominante de Amesterdão devia-se ao controlo dos principais sectores industriais e muitos dos navios que ostentavam a bandeira de Veneza eram de construção holandesa.

Um déspota implacável

Apenas uma coisa faltava ao bastião da construção naval: floresta. As reservas de madeira na região encontravam-se de tal modo esgotadas que toda a madeira necessária tinha de ser importada do estrangeiro. No entanto, não eram só osholandeses a sentir esse problema.

Durante o Renascimento, a falta de madeira era uma realidade quotidiana em muitas regiões da Itália e da Espanha. A falta de madeira começava a afligir um número cada vez maior de países. Nas palavras do académico Eino Jutikkala ela era “um déspota que obrigava os governantes a pedir de joelhos à fundição que lhes fornecesse canhões e as donas de casa a fazer uma vénia sempre que punham uma panela ao lume “.

As áreas florestais abastecedoras de madeira tinham que ser aumentadas. O grande incêndio de Londres, em 1666, pôs fim às aspirações dos ingleses de serem auto-suficientes em madeira. Os ingleses decidiram procurá-la, primeiro no Oriente e mais tarde no Novo Mundo.

O armazém escandinavo

A Noruega era há muito a principal abastecedora de madeira da Europa Ocidental. A Prússia, situada longe do centro comercial localizado no eixo Londres-Amesterdão, produzia alcatrão e resina. O fabrico de alcatrão consumida muita madeira, mas o produto final era relativamente leve e fácil de transportar. Devido ao seu baixo peso, tornava-se mais lucrativo do que os toros cortados e o seu transporte podia efectuar-se ao longo de grandes distâncias de forma lucrativa.

No século XVII, a procura crescente de produtos florestais obrigou a Europa a procurar fornecedores cada vez mais para Oriente. Os países do Báltico transformaram-se na fonte de madeira da Europa Ocidental e a Finlândia, que fazia parte do Império Sueco, o principal produtor de alcatrão.

O alcatrão de Estocolmo

As abundantes florestas do reino da Suécia constituíam uma enorme vantagem estratégica tanto comercial como política. O período em que a Suécia foi uma importante potência, no século XVII, foi financiado pelo florescimento do comércio de cobre, ferro e alcatrão. O significativo rendimento sueco provinha quase exclusivamente da comercialização desses três produtos.

Existiam jazigos de minério por toda a Europa, mas o mesmo não acontecia com as reservas de madeira necessárias à produção de carvão vegetal.

O alcatrão finlandês era comercializado pela Swedish Tar Company, cujos produtos quase monopolizavam o mercado, como era o caso na Inglaterra. Contudo, a política comercial da jovem superpotência era agressiva, obrigando os compradores a procurarem novas fontes.

Na procura de matérias-primas baratas, as frotas dos países da Europa ocidental navegaram através do Oceano Árctico em direcção ao porto russo de Murmansk, abrindo rotas comerciais para Moscovo. Esta não foi a única, nem a primeira, expedição em busca de madeira.

As viagens de descoberta

As primeiras viagens de descoberta foram impulsionadas pela procura de matérias-primas e de novas terras para explorar. As viagens realizadas pelos antigos Gregos, assim como as dos Vikings, mais tarde, basearam-se em cálculos financeiros.

As primeiras viagens de descoberta organizadas tiveram início na segunda metade do século XV. Os êxitos iniciais provaram que a exploração e domínio do mundo seria uma tarefa proveitosa para os Europeus. Quando os Portugueses Infante Dom Henrique e Diogo Gomes deram início aos Descobrimentos, apenas um quinto da superfície da Terra e uma reduzida percentagem do oceano eram conhecidos na Europa. No princípio do século XX, as únicas áreas por descobrir no mapa eram os gélidos glaciares polares e as selvas mais impenetráveis.

Ouro amarelo e ouro verde

Além dos produtos mais valiosos, como ouro, especiarias e escravos, as viagens de descoberta também procuravam artigos de primeira necessidade:

as terras que todos queriam encontrar e explorar eram aquelas que produzissem milho, açúcar, vinho ou madeira e que ofe-recessem facilidade de transporte.

De uma maneira geral, os primeiros exploradores tinham uma atitude muito prática em relação às suas descobertas. Não perdiam muito tempo a admirar as exóticas flora e fauna e tratavam de começar a explorá-las comercialmente o mais depressa possível.

O novo mundo

O primeiro dos novos paraísos descobertos pelos Portugueses foi a Madeira. Diogo Gomes relatou que nem se via o chão, tão impenetrável era a floresta que cobria a ilha - cedros e outras espécies. Outro nave-gador do século XV afirmou que as árvores eram tão altas que quase tocavam o céu. O Infante D. Henrique estabeleceu plantações de cana-de-açúcar na ilha, que se localizava uns 300 km a ocidente da costa africana. Em 1494, por exemplo, a indústria do açúcar consumiu 60.000 toneladas de madeira como combustível. Serrações movidas com a energia da água corrente também foram construídas nos maiores rápidos das ilhas, a fim de abastecer a capital de madeira para construção.

O período de abastecimento ilimitado de madeira foi determinado com perfeição; o principal objectivo da coroa portuguesa era descobrir um caminho marítimo para a Índia. A nova rota comercial pretendia acabar com o domínio de Veneza sobre o Mediterrâneo e o respectivo monopólio do comércio com o Oriente.

América

Nos séculos XVII e XVIII a Nova Ingla-terra, na América do Norte, tinha-se transformado no mais importante produtor de madeira do Novo Mundo. Essa zona produzia tanta madeira como a ilha da Madeira, cujas reservas se encontravam esgotadas e se havia voltado para a produção de vinho. A Espanha e Portugal passaram também a abastecer-se em Nova Inglaterra. De lá os navios americanos levavam grandes carregamentos de vinho para a Inglaterra que, em troca, vendia à colónia os produtos da sua indústria metalúrgica.

Os troncos vindos de Nova Inglaterra foram um comércio proveitoso para a Inglaterra. Na região do Báltico, o comércio da madeira dependia das correntes políticas, ao passo que navegar pelo Atlântico exigia apenas o conhecimento das correntes marítimas.

Novas tecnologias

A revolução Industrial costuma ser associada à rápida mecanização da indústria têxtil e ao impulso sofrido pela indústria na segunda metade do século XVIII. Contudo, duas inovações foram introduzidas no início desse mesmo século, as quais viriam adesempenhar um papel de relevo no desenvolvimento industrial. Um foi o processo de pudlagem e o outro a máquina a vapor.

Wood-Brake

No século XVIII, a fundição do ferro utilizando como combustível o carvão vegetal chegara a um impasse no coração da Europa Ocidental. Se por um lado a escassez de florestas travou o processo, por outro constituiu um incentivo fundamental à procura de uma solução para o problema.

Havia um combustível alternativo, conhecido desde o tempo dos Romanos, quando os Bretões usavam carvão para se aquecerem. Mais tarde, a sua utilização viria a ser repetidas vezes proibida, devido aos gases venenosos que emitia. Já se tinham feito várias tentativas malogradas de utilizar o carvão mineral, em vez do carvão vegetal, nas fornalhas. Contudo, nunca se havia conseguido eliminar as impurezas produzidas no processo.

Abraham Derby, proprietário de uma fundição de ferro em Shropshire, começou, em 1709, a tratar o carvão mineral através de um processo muito semelhante ao que permite obter o carvão de madeira. A sua invenção, chamada coque, era quase carbono puro e podia ser usada na manufactura do ferro bruto. A nova técnica demorou a ser adoptada. O emprego do carvão vege-tal na manufactura do ferro só começou a declinar em meados do século, quando o preço do carvão vegetal subiu em flecha e as novas invenções se firmaram.

Processo de pudlagem

A mais importante invenção neste campo foi o processo de pudlagem e rolagem desenvolvido pelo inglês Henry Cort em 1783-84. Utilizando este novo processo, o ferro bruto era completamente isolado do combustível, e as impurezas removidas por rolagem. Em finais do século XVIII, quase todo o ferro era produzido por meio de coque no reino da Inglaterra, que se transformou no principal exportador do metal.

Máquina a vapor

Em 1769, o engenheiro escocês James Watt patenteou um invento que se tornou na mais importante inovação da fase inicial da Revolução Industrial. O chamado “amigo do mineiro de carvão”, uma bomba a vapor que retirava água das galerias subterrâneas das minas de carvão, já fora registado em 1698.

Contudo, as propriedades da máquina a vapor de Watt permitiam um emprego mais vasto da nova fonte de energia. A inovação depressa se espalhou a todo o mundo industrial: as fábricas já não precisavam de depender da existência de fontes de energia hidráulica e podiam ser construídas junto aos locais onde existiam as matérias-primas.

Revolução nos transportes

A nova fonte de energia foi também utilizada nos meios de transporte. Inicialmente, barcos a vapor transportavam passageiros durante apenas curtas distâncias, mas na década de 1870 substituíram os veleiros na travessia do Atlântico. Contudo, o barco de madeira à vela, que na época se encontrava no auge do seu desenvolvimento, continuou a ser competitivo durante muitas décadas, mesmo no tráfego oceânico.

O caminho-de-ferro, um meio de transporte mais rápido do que o barco a vapor, veio fomentar a industrialização. Em 1840 as Ilhas Britânicas dispunham de 1 300 km de linhas de caminho-de-ferro, número que quase decuplicou ao longo das décadas que se seguiram.

As novas invenções e a floresta

Na Grã-Bretanha, as locomotivas funcionavam geralmente a carvão, embora se usasse lenha nos locais onde a madeira abundava. A construção das próprias linhas de caminho de ferro também exigia muita madeira. No início não só as travessas e as pontes eram feitas de madeira, mas também os próprios carris. Nessa época o ferro era muito dispendioso e usava-se apenas para revestir os carris. As novas serrações a vapor, que aumentavam a produção de pranchas e tábuas, começaram a surgir em florestas até então intocadas.

O emprego do carvão mineral nas máquinas a vapor veio salvar a floresta. Por outro lado, a madeira tinha cada vez mais aplicações.

A imprensa

Na primeira metade do século XIX, os homens de negócios aperceberam-se do enorme potencial oferecido por um jornal barato dirigido às vastas populações urbanas. A imprensa já progredira muito no século anterior, com a ascensão da classe média. Contudo, só com o aumento da população, o aparecimento de movimentos políticos de massas e de uma sociedade nacional, e o crescimento da literacia em consequência do novo sistema educativo oficial, as condições seriam favoráveis ao desenvolvimento de uma imprensa de grande circulação. O número cada vez maior de leitores exigia esclarecimento e entretenimento. Isso proporcionou à produção industrial massificada o seu trunfo: a publicidade.

Um jornal barato exigia um papel barato. A indústria do papel mecanizou-se. O papel começou a ser fabricado numa máquina a vapor entre 1820 e 1840. O problema principal, porém, era o preço elevado da matéria-prima usada na produção do papel: fibras e trapo reciclados.

A crise do trapo

Em 1850 o jornal britânico The Times anunciou que pagaria 100 libras a quem inventasse uma matéria-prima que substituísse o trapo no fabrico do papel. O anúncio não deu qualquer resultado.

Embora a produção de papel tivesse já sofrido progressos técnicos consideráveis desde os tempos de Gutenburg, a matéria-prima utilizada era ainda a mesma. Na maioria das classes sociais, as roupas eram usadas até à última e os trapeiros não conseguiam abastecer a indústria. O trapo acabou por estrangular a divulgação da palavra impressa.

Trapos que valiam o seu peso em oiro

A reciclagem e a exportação de trapos eram rigorosamente regulamentadas na Veneza do século XII, na Inglaterra do século XVI e na Suécia do século XVIII. Na Suécia e na Finlândia, todas as donas de casa, independentemente da sua posição social, tinham ordem de impedir que “os trapos de algodão ou lã, finos ou rudes, e o papel velho ou cortado, fossem deitados fora ou deixados a apodrecer, devendo antes ser reunidos e guardados num local ao abrigo da humidade.”

As instruções de reciclagem eram, na verdade, bastante modernas. Na Inglaterra de 1860, corriam as seguintes instruções sobre como separar os trapos em casa: “Todas as habitações deverão dispor de três sacos, um branco para trapos brancos, um verde para trapos de cor e um preto para o papel.”

Os trapeiros piratas eram punidos, mas o contrabando de trapo era uma actividade extremamente compensadora. As máquinas de fazer papel eram tão vorazes que até as mortalhas que embrulhavam as múmias egípcias serviam para alimentá-las.

Papel de urtiga

Já no século XVIII se procuravam substitutos para o trapo. Um fabricante francês fez experiências com juncos, musgo, lúpulo, urtigas e raízes de escalracho, um industrial de Amesterdão experimentou amianto e um sueco serradura. O fracasso de todas essas tentativas teve como resultado uma rigorosa política de racionamento das matérias-primas que entravam no fabrico do papel.

Papel de madeira!

As salvadoras de literatura foram a floresta e a química. Em 1844, o tecelão alemão Friedrich Keller inventou uma máquina de fazer pasta mecânica, ou madeira moída. Depressa evoluiu para um método de produção industrial. Contudo, essa pasta mecânica era só parte da solução do pro-blema, pois o trapo continuava a ser utilizado para ligar as fibras grossas. De início, as fábricas de papel desconfiaram dessas experiências ousadas; o papel à base de madeira não era tão “duradouro”, como o de trapo. Alguns fabricantes de São Petersburgo conseguiam passar facilmente a sua pasta mecânica na fronteira dizendo tratar-se de uma substância para clarificar o vinho, e levavam-na para as fábricas durante a noite, para que nem os seus clientes nem os seus concorrentes descobrissem o segredo.

A Exposição Mundial de Paris de 1867 marcou a última etapa da afirmação da pasta mecânica. O alemão Heinrich Voelter recebeu uma medalha de ouro pela sua máquina de pasta automática e o enge-nheiro de minas finlandês Knut Idestamm recebeu uma medalha de bronze pela sua pasta mecânica. A inovação seguinte na tecnologia do papel não tardaria muito.

Na década de 1850, os Estados Unidos, a Inglaterra e a França tentavam desenvolver um método químico para fabricar de pasta de papel. A fibra de celulose produzida a partir da madeira pelo chamado método Natron tinha propriedades semelhantes à do trapo.

As primeiras aplicações comerciais deste método quase coincidiram com os progressos na pasta mecânica na década de 1870. Os processos de sulfato e sulfito, que produziam uma celulose mais forte e barata, resolveram finalmente os problemas do fabrico do papel. O papel podia ser inteiramente obtido a partir de fibra de origem lenhosa.

Políticas marciais e florestais

A mudança fundamental na matéria-prima básica usada no fabrico do papel nos finais do século XIX, implicou a redistribuição dos sectores de produção industriais. A matéria-prima básica outrora usada na indústria pelos principais produtores - Inglaterra, França, Holanda, Espanha e Itália - cedera ao avanço dos novos processos de fabrico. Esses países tiveram de adaptar-se à ascensão dos novos produtores, onde havia abundantes reservas florestais.

Vendedores e mercados

Numa primeira fase, os países da zona boreal de coníferas abasteciam os produtores da Europa Ocidental e Meridional com pasta de papel semi-tratada. Mais tarde, a indústria do papel tornou-se ainda mais importante nos países nórdicos. Os países que queriam apostar na sua supremacia na indústria do papel usavam as suas abundantes reservas de matérias-primas como trunfo, contra as longas tradições dos antigos fabricantes e canais de distribuição existentes..

Os estados florestais europeus

No início do século XX, as exuberantes florestas europeias estavam distribuídas de modo pouco uniforme. A Alemanha era auto-suficiente e a Áustria podia mesmo exportar madeira. Por outro lado, a França, a Inglaterra e a Europa Meridional eram obrigadas a importá-la.

A maioria das florestas europeias encontrava-se em regiões pertencentes a um ou dois países relativamente sub-populados: no Império Russo e no seu principado, a Finlândia, e na dupla monarquia Suécia e Noruega. Estes países controlavam as importantes florestas de coníferas. A parte das reservas florestais do norte que cabia à Rússia era de cerca de 160-200 milhões de hectares, tendo a Finlândia e a Suécia 20 milhões cada uma e a Noruega uns 7 milhões de hectares.

A floresta e a guerra

Ao longo de toda a história da Europa a floresta sempre serviu de palco para a guerra, em especial quando entre as partes em conflito não havia equilíbrio quanto à população ou equipamento. Um exército romano inteiro foi massacrado em 9 a C na floresta de Teutoburg, levando os legionários a derrubar sistematicamente a floresta, a fim de privar os germânicos de esconderijos.

Consumo acelerado pela guerra

Os armamentos desenvolvidos durante o século XX levaram à destruição rápida e eficaz de qualquer vegetação que funcio-nasse como obstrução visual.

O bombardeamento de alvos civis, na Primeira e na Segunda Guerras Mundiais, causou danos materiais sem precedentes. A guerra total foi seguida de períodos de reconstrução total. Os programas de reconstrução trouxeram lucros incalculáveis aos fornecedores de madeira cujos armazéns conseguiram escapar à destruição. De tempos a tempos, a guerra marca as florestas europeias de forma tangível. A evolução técnica e económica afecta a floresta nos períodos de desenvolvimento pacífico. O emprego da madeira como combustível decresceu ao longo do século XX. Porém, a procura, pela florescente indústria do papel, de espécies de madeira branda, como o espruce, tem aumentado consistentemente. Em consequência, a proporção de coníferas, no número total de árvores disponíveis na Europa, aumentou.

Programas de florestação e regeneração artificial

A regeneração artificial não é uma coisa nova e tem sido praticada desde a Idade Média, em especial na região mediterrânica. A partir de meados do século XIX, porém, o estabelecimento de plantações é cada vez mais uma parte sistemática e permanente da relação entre o homem e a floresta. Os programas de florestação foram sempre associados a empreendimentos mais extensivos.

Políticas de florestação nacionais

Muitos programas de florestação nacionais foram levados a cabo em várias regiões da Europa em meados do século XIX. Incluíram restrições ao abate de árvores, gestão florestal baseada m investigação científica, o cultivo sistemático e a regeneração de espécies. Uma das mais impressionantes realizações foi a florestação, no início do século XX, da região do Landes, no Sudeste da França. Esta zona alagada, com uma superfície de quase 800 000 ha, foi dotada de diques, drenada e florestada. Embora tenham surgido novas florestas deste tipo em todo o continente, o seu impacte foi sobretudo local.

As florestas setentrionais

A diversa e muito antiga utilização da floresta pelo homem deixou uma marca indelével na paisagem. Isso é particularmente visível nos países do Mediterrâneo. Fazemos da floresta dos países nórdicos uma ideia muito diferente. Ela representa o mito da floresta natural, onde a mão do homem ainda não chegou. Todavia, não é bem assim.

Os Finlandeses, os Suecos e os Noruegueses, bem como os Russos, alteraram a natureza da floresta. Durante séculos os povos do norte praticaram, à escala intensiva, uma agricultura destruidora, além de desenvolverem indústrias rurais como queima de alcatrão, que requer grandes quantidades de madeira. Esse estilo de vida talvez não tenha um efeito tão drástico na floresta, comparado com a situação na Europa Central ou nos países do Mediterrâneo, mas a maioria das florestas dos países nórdicos já foi derrubada ou queimada pelo menos uma vez.

Ameaça atmosférica

Nas últimas décadas tem-se falado muito da possibilidade de as chuvas ácidas destruírem as florestas da Europa Central. As razões dessa preocupação são muitas, mas também existem causas culturais por detrás desses receios. Para os Romanos, a área hoje ocupada pela Alemanha era um país de florestas intermináveis. Após a extensiva destruição da Idade Média, a floresta voltou a ser o arquétipo da paisagem germânica, imagem profundamente enraizada nas várias disci-plinas artísticas. A floresta não tem o mesmo significado em todos os países europeus. Na Grã-Bretanha, por exemplo, várias regiões estão há muito sem árvores e os habitantes locais consideram mesmo que a plantação intensiva poderá destruir a paisagem.

A proporção de zonas de floresta na Europa diminuiu relativamente ao nível inicial. Contudo, a floresta e os seus produtos desempenham um papel importante na nossa história. Essa importância não deve ser vista apenas em termos económicos, de exportação e importação, mas também na produção literária e artística das diferentes épocas.