Floresta e Folklore


Conhecer as origens das tradições europeias sobre o tema da floresta pode abrir novas perspectivas sobre a história natural. Em especial a partir do século XIX, os colec-cionadores têm enriquecido os arquivos mundiais com lendas, adivinhas, crenças, feitiços, contos de fadas e outras formas de sabedoria popular, que revelam, cada uma à sua maneira, a relação entre os seres humanos e a natureza.

Os conhecimentos sobre as características especiais das árvores e as suas possíveis utilizações, ou as lendas protagonizadas por espíritos e animais da floresta, foram passando de país para país, exactamente como os inventos básicos, por exemplo o ma-chado, ou as mais recentes inovações na indústria madeireira. Não obstante, e por diversas razões, existem diferenças regio-nais radicais. Quando as vastas zonas de floresta da Europa Central e Meridional desapareceram, os espíritos da floresta locais precisaram de encontrar novas formas e funções. Ao mesmo tempo, as florestas do Norte da Europa continuavam habitadas por uma miríade de seres sobrenaturais; as pessoas apelavam à benevolência dessas divindades sempre que tinham de caçar, levar o gado a pastar ou realizar qualquer outra actividade na floresta.

Do ponto de vista moderno, a antiga visão do mundo parece carregada de superstições, que parecem tiradas de contos de fadas e filmes fantásticos. No passado, porém, as crenças populares eram parte essencial da realidade quotidiana. As várias crenças e tradições eram transmitidas oralmente de pais para filhos e procuravam fornecer respostas para os problemas da vida, papel hoje desempenhado pela ciência. No entanto, muita da antiga sabedoria relativa à floresta ainda hoje predomina em todo o mundo.

Quadros

A secagem das tábuas era realizada dentro de casa. As tábuas que se destinavam ao fabrico de tinas eram cortadas de troncos de pinheiro ou abeto, depois entalhadas e colocadas por baixo das casas a secar. No Outono, traziam-nas para dentro; à noite eram trabalhadas e transformadas em tinas.

O zimbro era uma madeira particularmente valiosa, em especial um tronco maciço sem ramos. Empregava-se no fabrico de canecas para a cerveja feita em casa, recipientes para manteiga e nata azeda, baldes e aros para pratos pequenos.

O pinheiro usava-se na construção, em vigas e outros materiais. Com ele se faziam também postes para poços, mastros, serradura, travessas de caminho-de-ferro,folheado e papel. Também era uma madeira excelente para cercas, gravetos e lenha. Com os pinheiros fazia-se ainda alcatrão. As raízes eram usadas na fabricação de cordas, piche, resina e rosina.

Os vidoeiros, ou bétulas, eram derrubados no final do Inverno, início da Primavera. Os lenhadores escolhiam os troncos mais rectos e serravam-nos para obter tábuas espessas que empilhavam em cruz e punham a secar. À medida que as árvores eram abatidas, os lenhadores iam reparando nos troncos naturalmente torcidos. A madeira ficava ao ar livre durante o Verão, para secar, depois era guardada dentro de casa e utilizada quando fosse necessário.

Com ramos jovens de vidoeiro faziam-se vassouras. Os ramos colhiam-se na Prima-vera, antes de as folhas comecarem a despontar. Retirava-se-lhes a casca e depois eram divididos em duas partes que se dobravam ao meio e enrolavam à volta uma da outra, em curvas bem apertadas.

Devido à sua cor pálida, o choupo-tremedor era utilizado para fazer colheres de pau e conchas de sopa. Durante as escuras e longas noites de Inverno, as pessoas faziam cestos para gravetos com lascas desta madeira clara. No entanto, os cestos para batatas eram feitos com lascas de madeira de pinheiro. Como era leve e bastante económico, o pinheiro era muito usado em cestaria. Era preciso verdadeiro talento para escolher o pinheiro ideal para usar em cestaria.

As pessoas faziam gravetos e cestos para gravetos a partir da madeira de pinheiro. Também costumavam usar o pinheiro no fabrico doméstico de caixões. Mas opinheiro era quase sempre serrado em tábuas e vendido.

As pessoas costumavam usar casca de vidoeiro para fabricar uma variedade de objectyos de uso quotidiano: pequenos cestos para colher bagas, manteigueiras, mochilas, vasos para plantas, saleiros, bainhas de facas, sapatos e mesmo anéis.

Em geral, são precisos três tipos de madeira para fabricar um violino. A frente é feita de abeto. As costas, o braço e as ilhargas têm que ser de bordo; a escala e as cravelhas de ébano. A madeira tem que ser densa e de veio uniforme. A secagem tem que durar pelo menos cinco anos para que a madeira com que se vai fazer o violino fique uniforme e nunca mais se dilate nem contraia.

1. Se um animal se perdia na floresta, ou se tornava impossível encontrá-lo no meio do arvoredo, era necessário fechar a floresta, atando duas árvores uma à outra com uma corda vermelha. Passadas três noites, a floresta libertava o animal.

2. Para proteger os animais domésticos dos predadores bastava caminhar três vezes à volta de uma vaca e bater em cada animal sempre com a mesma vara dizendo: “Lobo, não mates esta vaca”. Este truque devia ser feito três dias seguidos, de manhã. Depois disso, a vara tinha que ser guardada num lugar seguro.

3. Para melhorar a eficácia de uma arma, é preciso oleá-la com gordura de cobra ou bálsamo de osso. Quando essa arma for disparada, qualquer ave ou animal que a sua bala ela atinja, mesmo ao de leve, terá morte certa.

Mieluutar

Deusa dos bosques

Podes encher de ouro a tua taça,

De prata o teu cálice

Se me deres o que eu te pedi,

Os animais de quatro patas

correndo a cinco patas!

4. Os troncos usados na construção tinham que ser abatidos no Inverno, durante o Quarto Minguante, para que as casas fossem quentes e secas.

5. Dava azar praguejar enquanto se acendia uma fogueira na floresta. Para evitar os fogos florestais, as pessoas murmuravam rezas enquanto apagavam as suas fogueiras.

6. Antes de ir a um bosque colher bagas, devia atirar-se o cesto ao ar e dizer: “Pratos e travessas a abarrotar de bagas”. Se o cesto caísse a direito, era sinal de que a colheita seria boa, mas se ele caísse de pernas para o ar, isso significava que o dia não era bom para apanhar bagas.

7. A um pedaço de madeira formado por dois ramos que cresceram unidos chama-se uma árvore fundida. Quem encontrar uma, deve verter água sobre o local por onde o ramo tiver sido arrancado três vezes, em círculo. Duas no sentido dos ponteiros do relógio e uma no sentido oposto. Em seguida, deve despir-se as calças. Se, depois de a pessoa estar de cócoras na floresta com as calças para baixo durante algum tempo, nada acontecer, pode ter a certeza de que vai morrer.

Pode fazer-se uma ligadura adesiva pegando num pouco de resina de espruce e banha de porco e levando-as ao lume até derreterem e ficarem homogeneamente ligadas. Serve principalmente para tapar feridas abertas.

Pode obter-se um remédio eficaz contra a diarreia a partir de um vidoeiro jovem, forte como a lâmina de uma faca. Retira-se a casca da árvore e corta-se em fragmentos pequenos.Junta-se uma chávena desse pó a duas chávenas de água e leva-se a ferver. Bebe-se o líquido, mastiga-se a casca e engole-se.

O melhor bálsamo para todas as doenças cutâneas era o alcatrão. Beber água de alcatrão era a melhor forma de tratar a vulgar constipação. O alcatrão era um ingrediente indispensável para combater todo o tipo de doenças.

Em caso de dores de estômago causadas pelo frio, deitava-se alcatrão numa chávena de água ou café quentes e bebia-se.

A diarreia costumava ser tratada com um pó feito de casca de vidoeiro. Tomavam-se todos os dias umas colheres de sopa desse pó dissolvido em água.

As dores de estômago combatiam-se inge-rindo a película amarela por baixo da casca do vidoeiro.

Se uma pessoa se arranhasse sem querer num ramo de árvore e a pele ficasse irritada, era necessário cortar umas lascas da mesma árvore e fervê-las em água. Depois lavava-se o arranhão com essa água.

Preparava-se um remédio para a tuberculose com lascas de zimbro secas fervidas numa panela tapada. O doente tinha que beber meio copo de água de zimbro três vezes ao dia.

Dirija-se a uma floresta levando na boca três grãos de sal. Depois procure três vidoeiros que tenham nascido de uma única raiz, abra um buraco em cada árvore e coloque um grão de sal em cada um. Tape bem os buracos e verá que a sua dor de dentes desaparecrá. Os furúnculos podiam ser tra-tados pegando em três pedaços de madeira e pressionando o furúnculo três vezes com cada bloco.

Assim que lhe começar a dor um dente, limpe-o com palitos. Depois, abra um buraco pequeno numa árvore, coloque lá dentro os palitos e introduza um prego no buraco. A dor desaparecrá de seguida.

Para ter sorte na caça:

Quando preparar uma armadilha para uma lebre, primeiro deve olear e endireitar a armadilha. Depois vista um par de mitenes novas, imaculadamente limpas, e esfregue as cordas com ramos de espruce, para ficarem a cheirar a bosque. Pode então colocar a armadilha na floresta:

Bem-vinda, olhos-castanhos-de-bigodes, anda ver a minha armadilha, atravessa o mar, ou vem de mais longe, se te atreveres!

Era assim que antigamente se caçavam lebres.