Fogos florestais


1. O fogo é o regenerador natural da floresta

De entre os factores naturais de perturbação que afectam o desenvolvimento das florestas de coníferas na zona boreal, o fogo é o mais importante e aquele que atinge uma área maior. Durante milhares de anos os incêndios florestais diversificaram a natureza da floresta, ao preservarem a sua estrutura única de mosaico e a sua vasta gama de habitats. Hoje, os efeitos dos incêndios florestais foram quase totalmente eliminados já que o fogo constitui uma das principais ameaças para a silvicultura comercial. As clareiras na floresta resultam sobretudo de abates. Os estádios de sucessão que se seguem a um incêndio são agora extremamente raros; daí que as espécies dependentes desses estádios sejam também elas muito incomuns.

2. a. Como recupera a floresta de um incêndio?

Na sequência de um incêndio florestal, o microclima da área torna-se mais quente e seco durante muitos anos. Um incêndio florestal liberta os nutrientes contidos na camada orgânica, tornando-os disponíveis para o crescimento das plantas e reduzindo a acidez do solo. As condições de vida a seguir a um incêndio dependem da área em questão e da intensidade e tipo do incêndio.

2. b. A intensidade do fogo varia

Um incêndio rasteiro progride através do solo da floresta, queimando a vegetação do andar inferior e pequenas árvores e deixando as árvores maiores praticamente intactas. Um incêndio de copas mata também as árvores grandes e regenera profundamente toda a área ardida. A probabilidade de uma árvore sobreviver ao fogo varia consideravelmente: as árvores grandes têm maior capacidade de sobrevivência do que as pequenas. Os espruces e as árvores de folha caduca morrem geralmente num incêndio florestal, enquanto os grandes pinheiros estão protegidos por uma espessa camada de casca protectora na base dos seus troncos.

2. c. A área ardida não tarda a modificar-se

Algumas das espécies de plantas que ocupavam o local antes do incêndio sobrevivem rebentando de novo a partir das suas partes subterrâneas. Todavia, as espécies que aparecem em maior quantidade numa área ardida são aquelas que se dão bem em áreas expostas e que as colonizam a partir de áreas vizinhas por arder. São as chamadas espécies pioneiras. Cerca de 20 anos após um incêndio, as plantas lenhosas começam a projectar sombra na zona e as plantas pioneiras desaparecem gradualmente. Numa floresta adulta com cem anos, os únicos vestígios do evento catastrófico são as cicatrizes do fogo nos troncos de velhos pinheiros que sobreviveram ao incêndio florestal.

3. a. Incêndios florestais na Europa Central e Meridional

As florestas de caducifólias da Europa Central crescem em locais bastantes húmidos e não são muito susceptíveis aos incêndios florestais. Contudo, podem ocorrer fogos rasteiros em florestas daquele tipo em áreas mais secas. Aí os povoamentos florestais são constituídos por espécies dotadas de casca espessa (carvalho, por exemplo). Os efeitos dos incêndios florestais nos ecossistemas de florestas de coníferas de grande altitude são semelhantes aos que se fazem sentir na zona da floresta nórdica de coníferas.

3. b. As folhas com óleos essênciais são inflamáveis

O clima quente e seco torna os ecossistemas da região mediterrânica muito susceptíveis ao fogo. O intervalo médio entre incêndios é de 20-30 anos, se bem que não sejam de modo nenhum raras as florestas com 80-90 anos. À medida que a floresta envelhece, acumulam-se gradualmente no solo materiais altamente inflamáveis, que aumentam o risco de um incêndio florestal. A vegetação arbustiva da região é altamente inflamável devido à sua elevada densidade e às suas folhas produtora de óleos essênciais. Porém, o fogo progride rapidamente, sem que a temperatura do solo aumente muito. Um incêndio liberta nutrientes para o ciclo dos nutrientes, aumentando desta forma a produtividade do solo em algumas áreas. A vegetação original da região mediterrânica está bem adaptada ao fogo. O fogo pode matar coníferas, mas os carvalhos, por exemplo, muitas vezes escapam à destruição. Algumas espécies dependem do fogo: as sementes caídas no solo da floresta não começam a germinar até serem aquecidas pelo fogo.

4. a. Os incêndios florestais são essenciais para a sobrevivência de algumas espécies

As sementes de gerânio da espécie Geranium bohemicum podem sobreviver até 80 anos e requerem um choque térmico de mais de 35º C para germinarem. Muitos organismos adaptaram-se ao fogo, utilizam em seu proveito a floresta destruída pelo fogo ou tornaram-se dependentes dele. Alguns dos organismo dependentes de incêndios florestais - de entre os insectos, destacam-se alguns insectos sugadores e coleópteros - sofreram um acentuado declínio em número ou desapareceram mesmo da nossa fauna nativa. Também o número de espécies favorecidas pelos incêndios florestais decresceu, sendo muitas delas hoje espécies ameaçadas de extinção. Esta situação decorre do drástico recuo (quando não do total desaparecimento) da floresta de caducifólias regenerada pelo fogo, e sobretudo de árvores velhas de espécies de folha caduca (como os choupos).

4. b. Coleópteros especializados

Há uma espécie de coleóptero buprestídeo - Melanophila acuminata - que se reproduz apenas em árvores danificadas pelo fogo. Os indivíduos desta espécie possuem receptores de infravermelhos que lhes permitem migrar em direcção a incêndios florestais. A temperatura ideal para este escaravelho é anormalmente alta: 40º C. Nos países nórdicos há cerca de 35 espécies de insectos que se encontram sobretudo em florestas queimadas durante os primeiros 6 anos depois do fogo e cerca de 20 espécies que habitam florestas queimadas durante o período de 5-20 anos após o incêndio. Os insectos dependentes dos incêndios florestais caracterizam-se por uma extraordinária capacidade de dispersão. Podem viajar dezenas de quilómetros em direcção a áreas queimadas, guiados por órgãos sensoriais especiais. Os indivíduos destas espécies gozam de grande longevidade na forma adulta e são a maior parte das vezes de cor muito escura, reflectindo a luz de uma forma idêntica à da madeira carbonizada.

5. a. Com que frequência arde a floresta?

A prevenção de grandes incêndios florestais não começou antes de finais do século XIX. Até aí, a eclosão, a propagação e a extinção dos incêndios eram controladas sobretudo pela natureza. Na verdade, durante centenas de anos, a acção do homem teve sobre a ocorrência de incêndios florestais um efeito oposto ao que exerce hoje: o generalizado uso do fogo na época da agricultura de queimadas e o uso do fogo como método de arroteamento da floresta resultavam frequentes vezes na propagação do fogo a áreas florestais vizinhas.

5. b. Os incêndios são mais frequentes em solos arenosos secos

A frequência dos incêndios florestais depende, por exemplo, das condições de humidade da floresta, da topografia e do tipo de local onde a floresta ocorre. Estima-se que o intervalo médio entre incêndios em terrenos arenosos secos, é de 50 anos, ao passo que em solos húmidos de origem glaciária o fogo ocorre em média uma vez em cada 120 anos. As encostas viradas a sul e oeste arderam com mais frequência do que as voltadas a norte e as saliências com mais frequência do que a depressões. Os refúgios do fogo, i.e., a áreas onde o fogo contorna sem queimar, são “ilhas” de floresta húmida (geralmente povoamento de espruce), que arderam muito raras vezes.

5. c. Na Escandinávia as áreas ardidas são muito restritas

A extensão dos incêndios florestais varia segundo a topologia do terreno e os factores climatéricos em presença. Nas regiões do Norte da Rússia, da Sibéria e da América do Norte com clima continental, a dimensão da área ardida anualmente é, segundo as estatísticas, de milhões de hectares. Os incêndios florestais no Norte da Europa afectaram apenas áreas relativamente pequenas, graças às condições climatéricas variáveis e ao facto de a paisagem ser cortada por lagos e pântanos. O efectivo controlo do fogo ainda mais reduziu a extensão das áreas ardidas. A dimensão média das áreas florestais destruídas pelo fogo, p. ex. na Finlândia, é hoje em dia de apenas meio hectare, quando há um século era de 60-80 hectares.

6. Como podemos determinar o historial de incêndios de um povoamento florestal nos últimos milhares de anos?

Este tronco de pinheiro vem de uma árvore com 210 anos. A árvore foi abatida em 1997. A sua idade pode ser determinada a partir da contagem dos anéis de crescimento. O pinheiro sobreviveu a pelo menos três incêndios florestais. O primeiro ocorreu em 1811, o segundo em 1831 e o último em 1884. O estudo do historial de incêndios permite-nos determinar a frequência e a extensão dos incêndios florestais em diferentes tipos de florestas. Uma das formas de o fazer é contar o número de incêndios pelos anéis de crescimento de um pinheiro apresentando cicatrizes de queima pelo fogo. Contudo, este método não nos permite recuar muito no tempo (o mais antigo pinheiro vivo na Suécia germinou em 1274) e nem sempre revela a ocorrência de pequenos fogos rasteiros. O historial de incêndios florestais pode também ser estudado a partir da distribuição de partículas de carbono e de grãos de pólen que se acumularam nas camadas de sedimento no fundo dos lagos. Isto tem-nos possibilitado detectar incêndios que deflagraram perto de lagos há milhares de anos. Na Carélia do Norte, o incêndio mais antigo revelado pela análise de camadas de turfa remonta a cerca de 9500 AC.

7. a. Como se extingue um incêndio florestal?

Graças a uma eficaz vigilância contra os incêndios e à melhoria da rede de estradas florestais, conseguiu-se manter os incêndios florestais sob controlo em toda a Escan-dinávia. O método utilizado para extinguir incêndios florestais depende do tipo de fogo. Pôr termo a um fogo que alastra pelo solo ou controlar um fogo que se propaga através das copas das árvores requer técnicas muito diferentes.

7. b. Combater o fogo com um batedor

O principal utensílio para apagar um fogo rasteiro é um batedor (um ramo ou uma copa verde ou um ancinho de metal), usado para bater no fogo ao nível do manto de vegetação rasteira. Fileiras de homens com batedores trabalham nos lados da frente de fogo, tentando estreitá-la à medida que esta avança. Consegue-se deter o fogo usando ou os obstáculos do terreno (uma estrada florestal, p. ex.), ou uma linha de corta--fogo. Uma linha de corta-fogo é uma faixa, com cerca de um metro de largura, aberta de um lado ao outro na frente de fogo e da qual são removidos todos os materiais inflamáveis.

7. c. Fogo de copas

Pode deter-se o avanço de um fogo de copas abatendo uma ampla faixa de árvores através da floresta. Trata-se de uma operação complexa que envolve, p. ex., o derrube de uma grande quantidade de árvores, a abertura de uma linha de corta--fogo de 5 metros de largura, e o ateamento de um contra-fogo e que requer uma grande quantidade de homens e máquinas. Actualmente é possível também extinguir os incêndios a partir do ar. Bombardear o fogo com água a partir de helicópteros dotados de tanques de água é um meio muito eficaz de apagar um incêndio; porém, este meio só é usado se o fogo ameaça atingir povoações ou provocar conside-ráveis prejuízos económicos.

8. a. Conservação da natureza e incêndios florestais

Os mostradores acima mostram as opiniões de outros visitantes. Os incêndios florestais provocam consi-deráveis prejuízos económicos. Apesar de a prevenção ser dispendiosa, os incêndios podem destruir uma quantidade consi-derável de madeira valiosa e, nos piores casos, ameaçar até habitações. Contudo, os modernos e eficazes métodos de controlo do fogo conduziram ao empobrecimento da diversidade biológica e paisagística das nossas florestas. Os países empenhados em preservar a biodiversidade da natureza empenham-se também em proteger os biótipos formados na sequência de incêndios florestais, assim como a fauna e a flora dependentes dos incêndios. Este compromisso não se cumpre tentando ao mesmo tempo minimizar os efeitos do fogo nos ecossistemas florestais.

8. b. O fogo é necessário

Manter a biodiversidade da floresta pressupõe que se verificam também os estádios de sucessão do desenvolvimento natural da floresta. Os incêndios florestais são uma parte desse processo. Seria igualmente importante manter um desenvolvi-mento mais natural dos estádios de sucessão nas áreas de conservação da natureza. Actualmente, porém, a dimensão média das áreas de conservação da natureza é demasiado pequena para permitir grandes incêndios florestais. Poderiam criar-se, nas florestas comerciais, condições semelhantes às dos incêndios espontâneos, não remo-vendo da área resíduos de abates, árvores mortas, árvores de folha caduca vivas e vegetação rasteira após o corte raso e antes de atear o fogo. Poder-se-ia promover a biodiversidade deixando as matas ardidas desenvolverem-se livremente. A exploração destas deveria ser adiada no mínimo por alguns anos por forma a permitir às espécies dependentes do fogo condições de reprodução. Um controlo eficaz do fogo na floresta previne prejuízos económicos de monta, mas ao mesmo tempo ameaça a existência de muitos organismos directa ou indirectamente dependentes de áreas ardidas.